Institucional22/08/2018
DESAFIOS E ESTRATÉGIAS DE ENSINO PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
O presente trabalho visa elencar algumas estratégias práticas de ensino para incluir os estudantes com deficiência intelectual e facilitar o trabalho docente em sala de aula, devido as dificuldades que os educadores encontram para potencializar as aprendizagens destes alunos. Assim, a metodologia utilizada foi bibliográfica, considerando os obstáculos mais comuns nas práticas educacionais de professores da rede pública de ensino. Considerar as especificidades de cada estudante, planejar e executar atividades interativas que estejam relacionadas com a vida cotidiana de alunos com deficiência intelectual, buscar sempre o aperfeiçoamento pedagógico por meio de formações em serviço e utilizar brincadeiras e jogos interativos como ferramenta de ensino são alguns dos desafios do fazer docente para incluir educandos com deficiência intelectual na escola regular e no ambiente social.
Sabe-se das dificuldades dos professores em estimular a aprendizagem destes estudantes devido a diversidade de deficiências e das possibilidades de aprendizagem de cada educando, portanto torna-se essencial um planejamento que foque nas especificidades de cada aluno, considerando seus limites e valorizando suas potencialidades. A intenção é proporcionar uma inclusão social autônoma.
INTRODUÇÃO
A escola, principalmente na sociedade vigente, tem enfrentado múltiplos desafios na formação dos estudantes. Busca formar um indivíduo que: tome conhecimento dos saberes historicamente acumulados, atue criticamente nos processos deliberativos da sociedade, seja solidário e dialógico e, acima de tudo, respeite e valorize as diferenças no cotidiano. Com as políticas públicas de inclusão, cada vez mais, educadores vislumbram a necessidade de ter conhecimentos sobre os diferentes tipos de deficiências, objetivando compreender o que são e como trabalhá-las durante o processo educacional dos alunos com deficiência. Para que a educação seja democrática e igualmente qualitativa, atender todos os estudantes em suas especificidades torna-se primordial.
No entanto, os profissionais da educação encontram muitos obstáculos no processo de ensino e aprendizagem. Apesar de as escolas, por vezes, contarem com profissionais de educação especial, ainda carecem de conhecimentos de práticas que possam auxiliar o educando com deficiência.
Diante das preocupações expostas, visa-se, com este trabalho, mesmo que superficialmente, elencar algumas estratégias de ensino para incluir estudantes com deficiência intelectual e facilitar o trabalho docente em sala de aula, visando a garantia do direito à educação por meio de atividades direcionadas às particularidades dos alunos, procurando o envolvimento de toda a turma.
O artigo constitui-se como de revisão, pois sintetiza os conhecimentos de textos e livros sobre o tema e utiliza-se de uma análise bibliográfica para analisar, resumir e refletir sobre estratégias de ensino para inclusão de estudantes com deficiência intelectual nas escolas públicas regulares.
Para atingir o objetivo geral proposto, faz-se necessário estruturar os objetivos específicos, quais sejam:
- a) elencar as principais características dos alunos com deficiência intelectual;
- b) identificar quais os fatores possibilitadores de inclusão;
- c) indicar algumas estratégias de ensino para melhorar o processo de ensino e aprendizagem destes indivíduos.
Assim, o artigo iniciará discutindo as dificuldades e os avanços da inclusão das pessoas com deficiência intelectual nas escolas públicas regulares, bem como indicará caminhos para os docentes possibilitarem a inclusão escolar e social destes estudantes.
Os desafios enfrentados pelos educadores são grandes, mas não maiores que a necessidade de possibilitar a qualquer um de seus educandos o direito de se tornarem cidadãos.
CARACTERÍSTICAS MAIS NOTÓRIAS EM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
Sabe-se que, principalmente no sistema municipal de educação, os educadores possuem dificuldades e, ao mesmo tempo, estão interessados em incluir os alunos com deficiência intelectual. Apesar de não receberem cursos de capacitação capazes de lhes dar subsídios para seu trabalho em sala de aula, necessitam de apoio para desenvolver seu trabalho e incluir estes cidadãos.
Para tanto, torna-se necessário, primeiramente, conhecer para identificar as principais características dos alunos com deficiência intelectual. Segundo Hilário (s/d, p. 23), existem quatro áreas distintas em que os indivíduos com deficiência intelectual podem se enquadrar (considerando sempre que cada indivíduo possui características, dificuldades e habilidades próprias):
- área motora: algumas crianças com deficiência intelectual podem apresentar alterações na motricidade fina, atingindo graus mais severos na coordenação e manipulação, obtendo dificuldades para andar;
- área cognitiva: parcela dos estudantes com deficiência intelectual podem:
- a) apresentar dificuldades na aprendizagem de conceitos abstratos;
- b) aprender de tudo só que de maneira mais lenta;
- c) apresentar dificuldades para focar atenção;
- d) demorar a memorizar;
- área da comunicação: alguns alunos podem apresentar dificuldade de comunicação;
- área sócio educacional: em alguns casos pode ocorrer disparidade entre a idade mental e a idade cronológica. No entanto, indica-se que esses alunos tenham contato com pessoas da mesma idade cronológica para contribuir com o seu desenvolvimento.
Todavia, é importante salientar que as limitações das pessoas com deficiência intelectual dependem das oportunidades e necessidades individuais. Deve-se compreender, portanto, que cada indivíduo com deficiência intelectual tem, como qualquer outro, limitações e competências. Assim, o estímulo por parte de familiares, amigos e professores podem determinar o grau de desenvolvimento da pessoa com deficiência intelectual e, deste modo, as formas de enfrentamento das dificuldades.
Na escola é possível criar mecanismos de estímulo cognitivo, social e motor, criando, assim, para qualquer criança, maiores possibilidades de desenvolvimento global. Portanto, a inclusão da criança com deficiência intelectual na escola regular permite amplificar seu universo de aprendizagem e, com isso, criar possibilidades de inserção social, seja em nível afetivo ou mercadológico. Afinal, “[…] o homem não é uma essência imutável, ele está aberto ao mundo, completa-se nos signos, no outro, na troca com a exterioridade (MOSÉ, 2015, p. 36).
Para tal, é preciso que tanto a estrutura física quanto os profissionais em educação e demais funcionários da escola estejam preparados para enfrentar juntos com essas crianças seus obstáculos, dando o suporte necessário, considerando suas diferenças e possibilitando a garantia ao direito de igualdade e equidade.
O perigo está em inserir ao invés de incluir a pessoa com deficiência intelectual nas escolas públicas regulares. Não basta disponibilizar vagas nas escolas, pois isso seria apenas uma tentativa de interação, tão pouco, portanto, pode-se convencer de que, se a escola regular não tem como receber esses alunos é melhor deixá-los em instituições especializadas, fortificando um discurso de segregação, mas torna-se essencial que a criança com deficiência intelectual seja conhecida, ou seja, é imprescindível identificar suas dificuldades e suas potencialidades de aprendizagem para, assim, elaborar um planejamento pedagógico que auxilie em seu desenvolvimento escolar. E isso vale para todas as crianças, tendo algum tipo de deficiência ou não. É um processo que fortalece a democratização do espaço escolar.
Pois:
[…] para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada, devendo firmar a convivência no contexto da diversidade humana, bem como aceitar e valorizar a contribuição de cada um conforme suas condições pessoais (BRASIL, 1998, p. 18).
Para que se possa diagnosticar as dificuldades e potencialidades das pessoas com deficiência intelectual, torna-se primordial contar com uma equipe qualificada, preparada e integrada para trabalhar com este público. Essa equipe, além de auxiliar essas crianças e possibilitar sua inclusão social, ajudará a escola no processo de orientação da família, de modo que coopere com as ações das instituições de ensino e possibilite o melhor desenvolvimento desses alunos. A participação familiar é fundamental para que qualquer criança atinja o seu melhor no processo de aprendizagem escolar.
POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO
Atualmente a educação inclusiva conta com um respaldo legal que garante a educação gratuita a todos os alunos com algum tipo de deficiência. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lei n. 9.394/96,
por exemplo, é um forte documento que prioriza o atendimento educacional especializado gratuito na rede regular de ensino e garante serviços de apoio especializado para cada aluno com deficiência (BRASIL, 1996).
Portanto, as escolas públicas possuem alunos com deficiência intelectual frequentando regularmente salas de inclusão. Como já exposto, esta inclusão é essencial para o melhor desenvolvimento psíquico- social desses indivíduos.
A atenção à diversidade está focalizada no direito de acesso à escola e visa à melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos, irrestritamente, bem como as perspectivas de desenvolvimento e socialização. A escola, nessa perspectiva, busca consolidar o respeito às diferenças, conquanto não elogie a desigualdade. As diferenças vistas não como obstáculos para o cumprimento da ação educativa, mas, podendo e devendo ser fatores de enriquecimento (BRASIL, 1998, p. 23).
Sabe-se da importância dos familiares, docentes e demais funcionários da escola estarem integrados ao processo de aprendizagem das crianças para juntos, criarem estratégias que fortaleçam suas potencialidades. No entanto, para atingir o objetivo deste artigo, será necessário focar na importância do preparo pedagógico dos professores. O art. 59, inciso III, da LDB afirma que os sistemas de ensino devem assegurar aos educandos com deficiência „professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns” (BRASIL, 1996).
Logo, é fundamental que todos os profissionais que terão contato com crianças com necessidades especiais (pedagogos, psicólogos, assistentes sociais etc.) tenham uma formação sólida, capaz de auxiliá-las da melhor maneira possível e, caso tenham algum déficit em sua formação inicial, é de sua responsabilidade, e também dos sistemas de ensino, buscar aperfeiçoamento por meio de formações continuadas. Nunca se deve esquecer de que ser educador é ter um comprometimento constante com seus educandos, é fornecer uma educação emancipadora, igualitária que possibilite aos alunos atingir seu maior grau de autonomia.
O diálogo é ferramenta essencial para o melhor desenvolvimento das crianças com deficiência intelectual. Compreender situações de sucesso na aprendizagem destas pessoas em outras instituições de ensino e buscar auxílio são uns dos caminhos a percorrer para realmente possibilitar a inclusão no sistema regular de ensino.
Apesar da educação inclusiva estar bem respaldada em termos legais no Brasil, ainda enfrenta muitas dificuldades em incluir crianças com deficiência intelectual na rede pública regular de ensino. São necessários, ainda, muitos investimentos governamentais para que a escola atenda estruturalmente e pedagogicamente as necessidades dos alunos com deficiência intelectual. Cabe as escolas e aos docentes enfrentar essa luta e buscar meios de sanar as principais dificuldades.
ALGUMAS ESTRATÉGIAS DE ENSINO
Devido a diversidade presente nas escolas, o professor tem que realizar vários planejamentos de aula com estratégias potencializadoras da aprendizagem. Afinal, nem todos os estudantes seguem os mesmos caminhos para a construção do conhecimento. Com as crianças com deficiência intelectual não é diferente. Afinal, como já visto, cada uma apresenta limitações e potencialidades específicas (devido as experiências pessoais vividas), tendo, assim, cada uma, um ritmo de aprendizagem diferenciado.
Logo, não há estratégia pedagógica que sirva para todos os alunos e é inadmissível que as limitações das crianças com deficiência intelectual sejam justificativas para o conhecimento não adquirido.
As limitações devem sim ser consideradas, mas nunca determinantes. Deve-se conhecer as dificuldades para elaborar atividades que fortaleçam as potencialidades dos deficientes intelectuais, sempre considerando o que o aluno já sabe, o seu conhecimento de mundo, sua forma de interagir com os outros, seu modo particular de aprender. Isto é, o educador deve identificar as possibilidades de aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual e contar com recursos que permitam a organização e concretização de suas estratégias pedagógicas.
Para que o docente tenha um bom planejamento de suas ações é necessário, primeiramente, considerar o aluno e seus saberes. Planejar significa projetar, programar, elaborar roteiros para atingir determinados objetivos, de forma a evitar improvisação. Como a Escola é o espaço de concretização do Plano Escolar é necessário organizar as ações visando a qualidade de formação dos alunos em todos os níveis (OYAFUSO; MAIA, 2004, p. 26, grifo das autoras).
É essencial que o professor:
- a) conheça o aluno, sua família, suas características e seus interesses particulares, seu meio social e seu processo de aprendizagem (dificuldades e potencialidades);
- b) trabalhe coletivamente ao possibilitar entre si e os alunos sistemas de cooperação, podendo compreender melhor as dificuldades de aprendizagem de cada estudante;
- c) valorize as diferenças por meio de planejamento de estratégias de ensino que considerem as diferentes formas e ritmos de aprendizagem e que possibilitem a construção coletiva do próprio conhecimento;
- d) vise a aprendizagem significativa ao articular o interesse do educando com o saber que já possui (HILÁRIO, s/d, p. 17-22).
A partir dessas considerações, serão elencadas algumas estratégias de ensino para alunos com deficiência intelectual com o objetivo de auxiliar docentes e potencializar a aprendizagem desses educandos.
O jogo é uma maneira lúdica de adquirir novos conhecimentos, permite ao estudante participar coletivamente e ativamente de sua aprendizagem, ajuda a desenvolver a comunicação, a expressão, a criatividade, a autonomia. O professor é essencial na mediação das aprendizagens por meio de jogos, pois ele, junto aos alunos com deficiência visual, elaborará regras, estimulará a troca de informações e chegada de conclusões pelos participantes, bem como poderá, desde o início, confeccionar o jogo.
O computador auxiliará o aluno com deficiência intelectual ao propiciar o uso de editores de texto e imagem, da Internet como meio de pesquisa e interação pelas redes sociais, o acesso à informação e comunicação, bem como poderá obter softwares específicos que estimulem a capacidade de criação, descoberta e construção colaborativa do conhecimento. Logo, o computador torna-se uma ferramenta muito eficaz no desenvolvimento de atividades que potencializem a aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual.
Um trabalho que tenha uma referência visual marcante (cartazes, murais etc.), com fotos e letras grandes e coloridas, favorecem a aprendizagem de crianças com deficiência intelectual, pois possibilita a visualização imediata, lúdica e chamativa do conhecimento estudado e aprendido, facilitando a compreensão do conteúdo e a memorização.
O professor necessita elaborar atividades e projetos que estejam relacionados com a vida cotidiana dos estudantes, focando em suas habilidades e potencialidades. As atividades propostas necessitam ser detalhadas e explanadas repetidamente e de forma tranquila para maior compreensão e aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual.
Para se obter uma melhor aprendizagem, principalmente dos aspectos sócio afetivos, é necessário que sejam realizados trabalhos em grupos, propor trabalhos que proporcionem situações problemas cotidianos que valorizem os aspectos comunicativos e de cuidados pessoais são essenciais para fortalecer a autonomia da criança com deficiência intelectual.
O docente deve procurar realizar atividades simples que valorizem os aspectos sócio afetivos, tais como: abraço, demonstração de carinho; conhecer gostos, medos, interesses da criança; trabalhar sua autoimagem etc. Além disso, deve buscar fortalecer a linguagem e a comunicação por meio da identificação e da imitação de sons de músicas, personagens, instrumentos, brinquedos etc. É necessário trabalhar, também, o cognitivo pela identificação de objetos preferidos e pessoas próximas por meio de imagens, por exemplo; a concentração por meio de histórias infantis, fantoches, brinquedos sonoros etc.; aplicar atividades com objetos de tamanhos, formas, cores diferentes para desenvolver noções de tamanho e permanência; fortalecer a motricidade fina (manusear, sustentar e transferir objetos nas mãos, guardar objetos e classificá-los por meio de recipientes de diversos tamanhos e cores, brincar com objetos de encaixe de diferentes tamanhos e espessuras etc.) e ampla (sentar com e sem apoio das mãos, engatinhar, passar por baixo, por cima, por dentro e por fora de obstáculos, se sustentar em pé e agachar sem auxílio, subir e descer de locais e objetos sem auxílio etc.) (HILÁRIO, s/d, p. 32-36).
Essas estratégias estão longe de ser um livro de receitas, mas são alternativas de ensino que poderão ser aprimoradas e aperfeiçoadas pelos educadores, considerando as especificidades e potencialidades de cada aluno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que é de suma importância ter um sistema de ensino preparado para receber alunos com diferentes tipos de deficiência intelectual, adequando o ambiente para recebê-los e preparando profissionais que saibam atendê-los em suas especificidades e habilidades, que saibam que estes alunos, assim como qualquer outro, conseguem aprender e devem interagir com o mundo para poder se desenvolver academicamente e socialmente, isto é, se tornarem cidadãos ativos e autônomos.
Possibilitar a inclusão social requer reflexão contínua sobre os processos de ensino e aprendizagem, exige criar estratégias de ensino que sejam realmente potencializadoras de habilidades e que considerem as especificidades de cada aluno, seja ele deficiente intelectual ou não. E, para isso, é necessário alterar aspectos do currículo escolar, do planejamento docente, da estrutura física e de materiais didáticos da escola, da formação contínua dos docentes, das formas de avaliação, do apoio de toda equipe da escola, dos familiares e do governo etc.
Contudo, o professor se sentirá sempre o grande responsável pela inclusão dos estudantes com deficiência intelectual e, portanto, cabe a ele lutar, junto com toda a equipe escolar, por uma educação de qualidade, por uma educação realmente inclusiva.
POR: JULIANA C. BARCELLI