sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Deficiência Intelectual

DESAFIOS E ESTRATÉGIAS DE ENSINO PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

O presente trabalho visa elencar algumas estratégias práticas de ensino para incluir os estudantes com deficiência intelectual e facilitar o trabalho docente em sala de aula, devido as dificuldades que os educadores encontram para potencializar as aprendizagens destes alunos. Assim, a metodologia utilizada foi bibliográfica, considerando os obstáculos mais comuns nas práticas educacionais de professores da rede pública de ensino. Considerar as especificidades de cada estudante, planejar e executar atividades interativas que estejam relacionadas com a vida cotidiana de alunos com deficiência intelectual, buscar sempre o aperfeiçoamento pedagógico por meio de formações em serviço e utilizar brincadeiras e jogos interativos como ferramenta de ensino são alguns dos desafios do fazer docente para incluir educandos com deficiência intelectual na escola regular e no ambiente social.
Sabe-se das dificuldades dos professores em estimular a aprendizagem destes estudantes devido a diversidade de deficiências e das possibilidades de aprendizagem de cada educando, portanto torna-se essencial um planejamento que foque nas especificidades de cada aluno, considerando seus limites e valorizando suas potencialidades. A intenção é proporcionar uma inclusão social autônoma.
INTRODUÇÃO
A escola, principalmente na sociedade vigente, tem enfrentado múltiplos desafios na formação dos estudantes. Busca formar um indivíduo que: tome conhecimento dos saberes historicamente acumulados, atue criticamente nos processos deliberativos da sociedade, seja solidário e dialógico e, acima de tudo, respeite e valorize as diferenças no cotidiano. Com as políticas públicas de inclusão, cada vez mais, educadores vislumbram a necessidade de ter conhecimentos sobre os diferentes tipos de deficiências, objetivando compreender o que são e como trabalhá-las durante o processo educacional dos alunos com deficiência. Para que a educação seja democrática e igualmente qualitativa, atender todos os estudantes em suas especificidades torna-se primordial.
No   entanto, os profissionais da educação encontram muitos obstáculos no processo de ensino e aprendizagem. Apesar de as escolas, por vezes, contarem com profissionais de educação especial, ainda carecem de conhecimentos de práticas que possam auxiliar o educando com deficiência.
Diante das preocupações expostas, visa-se, com este trabalho, mesmo que superficialmente, elencar algumas estratégias de ensino para incluir estudantes com deficiência intelectual e facilitar o trabalho docente em sala de aula, visando a garantia do direito à educação por meio de atividades direcionadas às particularidades dos alunos, procurando o envolvimento de toda a turma.
O artigo constitui-se como de revisão, pois sintetiza os conhecimentos de textos e livros sobre o tema e utiliza-se de uma análise bibliográfica para analisar, resumir e refletir sobre estratégias de ensino para inclusão de estudantes com deficiência intelectual nas escolas públicas regulares.
Para atingir o objetivo geral proposto, faz-se necessário estruturar os objetivos específicos, quais sejam:
  1. a) elencar as principais características dos alunos com deficiência intelectual;
  2. b) identificar quais os fatores possibilitadores de inclusão;
  3. c) indicar algumas estratégias de ensino para melhorar o processo de ensino e aprendizagem destes indivíduos.
Assim, o artigo iniciará discutindo as dificuldades e os avanços da inclusão das pessoas com deficiência intelectual nas escolas públicas regulares, bem como indicará caminhos para os docentes possibilitarem a inclusão escolar e social destes estudantes.
Os desafios enfrentados pelos educadores são grandes, mas não maiores que a necessidade de possibilitar a qualquer um de seus educandos o direito de se tornarem cidadãos.
CARACTERÍSTICAS MAIS NOTÓRIAS EM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
Sabe-se que, principalmente no sistema municipal de educação, os educadores possuem dificuldades e, ao mesmo tempo, estão interessados em incluir os alunos com deficiência intelectual. Apesar de não receberem cursos de capacitação capazes de lhes dar subsídios para seu trabalho em sala de aula, necessitam de apoio para desenvolver seu trabalho e incluir estes cidadãos.
Para tanto, torna-se necessário, primeiramente, conhecer para identificar as principais características dos alunos com deficiência intelectual. Segundo Hilário (s/d, p. 23), existem quatro áreas distintas em que os indivíduos com deficiência intelectual podem se enquadrar (considerando sempre que cada indivíduo possui características, dificuldades e habilidades próprias):
  1. área motora: algumas crianças com deficiência intelectual podem apresentar alterações na motricidade fina, atingindo graus mais severos na coordenação e manipulação, obtendo dificuldades para andar;
  2. área cognitiva: parcela dos estudantes com deficiência intelectual podem:
  3. a) apresentar dificuldades na aprendizagem de conceitos abstratos;
  4. b) aprender de tudo só que de maneira mais lenta;
  5. c) apresentar dificuldades para focar atenção;
  6. d) demorar a memorizar;
  7. área da comunicação: alguns alunos podem apresentar dificuldade de comunicação;
  8. área sócio educacional: em alguns casos pode ocorrer disparidade entre a idade mental e a idade cronológica. No entanto, indica-se que esses alunos tenham contato com pessoas da mesma idade cronológica para contribuir com o seu desenvolvimento.
Todavia, é importante salientar que as limitações das pessoas com deficiência intelectual dependem das oportunidades e necessidades individuais. Deve-se compreender, portanto, que cada indivíduo com deficiência intelectual tem, como qualquer outro, limitações e competências. Assim, o estímulo por parte de familiares, amigos e professores podem determinar o grau de desenvolvimento da pessoa com deficiência intelectual e, deste modo, as formas de enfrentamento das dificuldades.
Na escola é possível criar mecanismos de estímulo cognitivo, social e motor, criando, assim, para qualquer criança, maiores possibilidades de desenvolvimento global. Portanto, a inclusão da criança com deficiência intelectual na escola regular permite amplificar seu universo de aprendizagem e, com isso, criar possibilidades de inserção social, seja em nível afetivo ou mercadológico. Afinal, “[…] o homem não é uma essência imutável, ele está aberto ao mundo, completa-se nos signos, no outro, na troca com a exterioridade (MOSÉ, 2015, p. 36).
Para tal, é preciso que tanto a estrutura física quanto os profissionais em educação e demais funcionários da escola estejam preparados para enfrentar juntos com essas crianças seus obstáculos, dando o suporte necessário, considerando suas diferenças e possibilitando a garantia ao direito de igualdade e equidade.
O perigo está em inserir ao invés de incluir a pessoa com deficiência intelectual nas escolas públicas regulares. Não basta disponibilizar vagas nas escolas, pois isso seria apenas  uma   tentativa de interação, tão pouco, portanto, pode-se convencer de que, se a escola regular não tem como receber esses alunos é melhor deixá-los em instituições especializadas, fortificando um discurso de segregação, mas torna-se essencial que a criança com deficiência intelectual seja conhecida, ou seja, é imprescindível identificar suas dificuldades e suas potencialidades de aprendizagem para, assim, elaborar um planejamento pedagógico que auxilie em seu desenvolvimento escolar. E isso vale para todas as crianças, tendo algum tipo de deficiência ou não. É um processo que fortalece a democratização do espaço escolar.
Pois:
[…] para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada, devendo firmar a convivência no contexto da diversidade humana, bem como aceitar e valorizar a contribuição de cada um conforme suas condições pessoais (BRASIL, 1998, p. 18).
Para que se possa diagnosticar as dificuldades e potencialidades das pessoas com deficiência intelectual, torna-se primordial contar com uma equipe qualificada, preparada e integrada para trabalhar com este público. Essa equipe, além de auxiliar essas crianças e possibilitar sua inclusão social, ajudará a escola no processo de orientação da família, de modo que coopere com as ações das instituições de ensino e possibilite o melhor desenvolvimento desses alunos. A participação familiar é fundamental para que qualquer criança atinja o seu melhor no processo de aprendizagem escolar.
POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO
Atualmente a educação inclusiva conta com um respaldo legal que garante a educação gratuita a todos os alunos com algum tipo de deficiência. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lei n. 9.394/96,
por exemplo, é um forte documento que prioriza o atendimento educacional especializado gratuito na rede regular de ensino e garante serviços de apoio especializado para cada aluno com deficiência (BRASIL, 1996).
Portanto, as escolas públicas possuem alunos com deficiência intelectual frequentando regularmente salas de inclusão. Como já exposto, esta inclusão é essencial para o melhor desenvolvimento psíquico- social desses indivíduos.
A atenção à diversidade está focalizada no direito de acesso à escola e visa à melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos, irrestritamente, bem como as perspectivas de desenvolvimento e socialização. A escola, nessa perspectiva, busca consolidar o respeito às diferenças, conquanto não elogie a desigualdade. As diferenças vistas não como obstáculos para o cumprimento da ação educativa, mas, podendo e devendo ser fatores de enriquecimento (BRASIL, 1998, p. 23).
Sabe-se da importância dos familiares, docentes e demais funcionários da escola estarem integrados ao processo de aprendizagem das crianças para juntos, criarem estratégias que fortaleçam suas potencialidades. No entanto, para atingir o objetivo deste artigo, será necessário focar na importância do preparo pedagógico dos professores. O art. 59, inciso III, da LDB afirma que os sistemas de ensino devem assegurar aos educandos com deficiência „professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns” (BRASIL, 1996).
Logo, é fundamental que todos os profissionais que terão contato com crianças com necessidades especiais (pedagogos, psicólogos, assistentes sociais etc.) tenham uma formação sólida, capaz de auxiliá-las da melhor maneira possível e, caso tenham algum déficit em sua formação inicial, é de sua responsabilidade, e também dos sistemas de ensino, buscar aperfeiçoamento por  meio  de formações continuadas. Nunca se deve esquecer de que ser educador é ter um comprometimento constante com seus educandos, é fornecer uma educação emancipadora, igualitária que possibilite aos alunos atingir seu maior grau de autonomia.
O diálogo é ferramenta essencial para o melhor desenvolvimento das crianças com deficiência intelectual. Compreender situações de sucesso na aprendizagem destas pessoas em outras instituições de ensino e buscar auxílio são uns dos caminhos a percorrer para realmente possibilitar a inclusão no sistema regular de ensino.
Apesar da educação inclusiva estar bem respaldada em termos legais no Brasil, ainda enfrenta muitas dificuldades em incluir crianças com deficiência intelectual na rede pública regular de ensino. São necessários, ainda, muitos investimentos governamentais para que a escola atenda estruturalmente e pedagogicamente as necessidades dos alunos com deficiência intelectual. Cabe as escolas e aos docentes enfrentar essa luta e buscar meios de sanar as principais dificuldades.
ALGUMAS ESTRATÉGIAS DE ENSINO
Devido a diversidade presente nas escolas, o professor tem que realizar vários planejamentos de aula com estratégias potencializadoras da aprendizagem. Afinal, nem todos os estudantes seguem os mesmos caminhos para a construção do conhecimento. Com as crianças com deficiência intelectual não é diferente. Afinal, como já visto, cada uma apresenta limitações e potencialidades específicas (devido as experiências pessoais vividas), tendo, assim, cada uma, um ritmo de aprendizagem diferenciado.
Logo, não há estratégia pedagógica que sirva para todos os alunos e é inadmissível que as limitações das crianças com deficiência intelectual sejam justificativas para o conhecimento não adquirido.
As limitações devem sim ser consideradas, mas nunca determinantes. Deve-se conhecer as dificuldades para elaborar atividades que fortaleçam as potencialidades dos deficientes intelectuais, sempre considerando o que o aluno já sabe, o seu conhecimento de mundo, sua forma de interagir com os outros, seu modo particular de aprender. Isto é, o educador deve identificar as possibilidades de aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual e contar com recursos que permitam a organização e concretização de suas estratégias pedagógicas.
Para que o docente tenha um bom planejamento de suas ações é necessário, primeiramente, considerar o aluno e seus saberes. Planejar significa projetar, programar, elaborar roteiros para atingir determinados objetivos, de forma a evitar improvisação. Como a Escola é o espaço de concretização do Plano Escolar é necessário organizar as ações visando a qualidade de formação dos alunos em todos os níveis (OYAFUSO; MAIA, 2004, p. 26, grifo das autoras).
É essencial que o professor:
  1. a) conheça o aluno, sua família, suas características e seus interesses particulares, seu meio social e seu processo de aprendizagem (dificuldades e potencialidades);
  2. b) trabalhe coletivamente ao possibilitar entre si e os alunos sistemas de cooperação, podendo compreender melhor as dificuldades de aprendizagem de cada estudante;
  3. c) valorize as diferenças por meio de planejamento de estratégias de ensino que considerem as diferentes formas e ritmos de aprendizagem e que possibilitem a construção coletiva do próprio conhecimento;
  4. d) vise a aprendizagem significativa ao articular o interesse do educando com o saber que já possui (HILÁRIO, s/d, p. 17-22).
A partir dessas considerações, serão elencadas algumas estratégias de ensino para alunos com deficiência intelectual com o objetivo de auxiliar docentes e potencializar a aprendizagem desses educandos.
O jogo é uma maneira lúdica de adquirir novos conhecimentos, permite ao estudante participar coletivamente e ativamente de sua aprendizagem, ajuda a desenvolver a comunicação, a expressão, a criatividade, a autonomia. O professor é essencial na mediação das aprendizagens por meio de jogos, pois ele, junto aos alunos com deficiência visual, elaborará regras, estimulará a troca de   informações e chegada de conclusões pelos participantes, bem como poderá, desde o início, confeccionar o jogo.
O computador auxiliará o aluno com deficiência intelectual ao propiciar o uso de editores de texto e imagem, da Internet como meio de pesquisa e interação pelas redes sociais, o acesso à informação e comunicação, bem como poderá obter softwares específicos que estimulem a capacidade de criação, descoberta e construção colaborativa do conhecimento. Logo, o computador torna-se uma ferramenta muito eficaz no desenvolvimento de atividades que potencializem a aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual.
Um trabalho que tenha uma referência visual marcante (cartazes, murais etc.), com fotos e letras grandes e coloridas, favorecem a aprendizagem de crianças com deficiência intelectual, pois possibilita a visualização imediata, lúdica e chamativa do conhecimento estudado e aprendido, facilitando a compreensão do conteúdo e a memorização.
O professor necessita elaborar atividades e projetos que estejam relacionados com a vida cotidiana dos estudantes, focando em suas habilidades e potencialidades. As atividades propostas necessitam ser detalhadas e explanadas repetidamente e de forma tranquila para maior compreensão e aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual.
Para se obter uma melhor aprendizagem, principalmente dos aspectos sócio afetivos, é necessário que sejam realizados trabalhos em grupos, propor trabalhos que proporcionem situações problemas cotidianos que valorizem os aspectos comunicativos e de cuidados pessoais são essenciais para fortalecer a autonomia da criança com deficiência intelectual.
O docente deve procurar realizar atividades simples que valorizem os aspectos sócio afetivos, tais como: abraço, demonstração de carinho; conhecer gostos, medos, interesses da criança; trabalhar sua autoimagem etc. Além disso, deve buscar fortalecer a linguagem e a comunicação por meio da identificação e da imitação de sons de músicas, personagens, instrumentos, brinquedos etc. É necessário trabalhar, também, o cognitivo pela identificação de objetos preferidos e pessoas próximas por meio de imagens, por exemplo; a concentração por meio de histórias infantis, fantoches, brinquedos sonoros etc.; aplicar atividades com objetos de tamanhos, formas, cores diferentes para desenvolver noções de tamanho e permanência; fortalecer a motricidade fina (manusear, sustentar e transferir objetos nas mãos, guardar objetos e classificá-los por meio de recipientes de diversos tamanhos e cores, brincar com objetos de encaixe de diferentes tamanhos e espessuras etc.) e ampla (sentar com e sem apoio das mãos, engatinhar, passar por baixo, por cima, por dentro e por fora de obstáculos, se sustentar em pé e agachar sem auxílio, subir e descer de locais e objetos sem auxílio etc.) (HILÁRIO, s/d, p. 32-36).
Essas estratégias estão longe de ser um livro de receitas, mas são alternativas de ensino que poderão ser aprimoradas e aperfeiçoadas pelos educadores, considerando as especificidades e potencialidades de cada aluno.
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que é de suma importância ter um sistema de ensino preparado para receber alunos com diferentes tipos de deficiência intelectual, adequando o ambiente para  recebê-los e preparando profissionais que saibam  atendê-los em suas especificidades e habilidades, que saibam que estes alunos, assim como qualquer outro, conseguem aprender e devem interagir com o mundo para poder se desenvolver academicamente e socialmente, isto é, se tornarem cidadãos ativos e autônomos.
Possibilitar a inclusão social requer reflexão contínua sobre os processos de ensino e aprendizagem, exige criar estratégias de ensino que sejam realmente potencializadoras de habilidades e que considerem as especificidades de cada aluno, seja ele deficiente intelectual ou não. E, para isso, é necessário alterar aspectos do currículo escolar, do planejamento docente, da estrutura física e de materiais didáticos da escola, da formação contínua dos docentes, das formas de avaliação, do apoio de toda equipe da escola, dos familiares e do governo etc.
Contudo, o professor se sentirá sempre o grande responsável pela inclusão dos estudantes com deficiência intelectual e, portanto, cabe a ele lutar, junto com toda a equipe escolar, por uma educação de qualidade, por uma educação realmente inclusiva.
POR: JULIANA C. BARCELLI

Inclusão

Aumenta inclusão de alunos com deficiência, mas escolas não têm estrutura para recebê-los

Censo Escolar foi divulgado pelo Ministério da Educação nesta quarta-feira

INCLUSÃO

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NO ENSINO REGULAR

Confira aqui uma reflexão sobre a inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular

RESUMO
O presente trabalho apresenta uma reflexão sobre a inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular, com o objetivo de analisar a política de inclusão e os seus reflexos nos processos de socialização e de aprendizagem dos alunos com necessidades especiais, observando sistematicamente o interesse e o comportamento dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, decorrentes das suas necessidades educacionais especiais no cotidiano da sala de aula. A pesquisa pautou-se em estudos de referenciais teóricos e em um estudo de caso em uma Unidade Escolar de ensino regular que proporcionou uma análise entre a teoria e a prática no cotidiano escolar, numa sala de aula, onde o professor tem que atender a diversidade, tanto em relação às dificuldades de aprendizagem, como também a diversidade comportamental. Dessa forma, analisou-se que a escola está cumprindo seu papel com estratégias que permitam a integração dos alunos de forma mais autônoma, porém ainda há mudanças necessárias para a emancipação dos alunos com necessidades especiais, principalmente com a participação da família, objetivando uma escola de qualidade para todos.
Palavras-Chaves: Educação Inclusiva. Alunos. Aprendizagem. Equidade.
1 Introdução
O direito do aluno com necessidades educativas especiais e de todos os cidadãos à educação é um direito constitucional. A garantia de uma educação de qualidade para todos implica, dentre outros fatores, um redimensionamento da escola no que consiste não somente na aceitação, mas também na valorização das diferenças. Esta valorização se efetua pelo resgate dos valores culturais, os que fortalecem identidade individual e coletiva, bem como pelo respeito ao ato de aprender e de construir.
Segundo as políticas educacionais, descreve-se uma escola que se prepara para enfrentar o desafio de oferecer uma educação inclusiva e de qualidade para todos os seus alunos. Considerando que, cada aluno numa sala de aula apresenta características próprias e um conjunto de valores e informações que os tornam únicos e especiais, constituindo uma diversidade de interesses e ritmos de aprendizagem, o desafio e as expectativas da escola hoje é trabalhar com essas diversidades na tentativa de construir um novo conceito do processo ensino-aprendizagem, eliminando definitivamente o seu caráter excludente, de modo que sejam incluídos neste processo todos que dele, por direito, são sujeitos.
Este novo olhar da escola implica na busca de alternativas que garantam o acesso e a permanência de todas as crianças e adolescentes no seu interior. Assim, o que se deseja é a construção de uma sociedade inclusiva compromissada com as minorias, cujo grupo inclui os portadores de necessidades educacionais especiais. O espaço escolar, hoje, tem de ser visto como espaço de todos e para todos.
Este tema foi escolhido porque muito se falam, discutem sobre a educação inclusiva; e a Proposta de Educação Inclusiva (1996) recomenda que todos os indivíduos com necessidades especiais sejam matriculados em turma regular, baseando-se no princípio de educação para todos.
Dessa forma, pretendeu-se enfatizar a educação inclusiva, e a problemática sobre os alunos com necessidades especiais dentro do contexto social da escola, verificando a atual realidade, fazendo um paralelo entre a teoria e a prática, isto é, a legislação vigente, os referenciais teóricos e o cotidiano dos alunos inclusos no ensino regular.
Para a elaboração do trabalho segundo os objetivos, o delineamento metodológico teve como suporte a utilização de uma bibliografia diversificada sobre o assunto, e por uma parte prática através da pesquisa de campo  realizada junto a uma Unidade Escolar de Ensino Regular, sendo que a população analisada foram alunos de inclusão do 6º ano do Ensino Fundamental, Ciclo II com características semelhantes.
Todas as informações foram analisadas com o objetivo de verificar a política de inclusão e os seus reflexos nos processos de socialização e de aprendizagem de alunos com necessidades especiais na rede regular de ensino.
2 Desenvolvimento
2.1 Uma escola inclusiva de qualidade
A escola inclusiva com equidade é um desafio que implica e rever alguns aspectos, que envolvem desde o setor administrativo até o pedagógico. As Unidades Escolares de Ensino Regular devem oferecer vagas e matricular todos os alunos, organizando-se para o atendimento com equidade aos educandos com necessidades educacionais especiais e assegurar-lhes condições necessárias para a permanência e aprendizagem.
Em relação à educação especial, o artigo 3º da Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de setembro de 2001 especifica que:
Por educação especial, modalidade da educação escolar entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais e especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentem necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica (BRASIL- MEC/SEESP, 2001, p. 1)
A política de inclusão de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino não consiste apenas na permanência física desses alunos junto aos demais educandos, mas representa a ousadia de rever concepções e paradigmas, bem como desenvolver o potencial dessas pessoas, respeitando suas diferenças e atendendo suas necessidades.
A diversidade deve ser respeitada e valorizada entre os alunos. Daí a importância do papel da escola em definir atividades e procedimentos de relações, que envolvam alunos, funcionários, corpo docente e gestores, para que possibilite espaços inclusivos, de acessibilidade, para que todos possam fazer parte de um todo, isto é, que as atividades extraclasses nunca deixam de atender os alunos com necessidades especiais.
O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade da Educação Básica. De acordo com o artigo 4º da Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de setembro de 2001, a educação especial considera as situações singulares, os perfis dos estudantes, as características biopsicossociais dos alunos e suas faixas etárias e se pauta em princípios éticos, políticos e estéticos de modo a assegurar:
 I - a dignidade humana e a observância do direito de cada aluno de realizar seus projetos de estudo, de trabalho e de inserção na vida social; II - a busca da identidade própria de cada educando, o reconhecimento e a valorização das suas diferenças e potencialidades, bem como de suas necessidades educacionais especiais no processo de ensino e aprendizagem, como base para a constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos, habilidades e competências;  III - o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da capacidade de participação social, política e econômica e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres e o usufruto de seus direitos (BRASIL- MEC/SEESP, 2001, p. 1)
Assim, o trabalho com a educação inclusiva nas Unidades Escolares tem que ser direcionado a partir do seu contexto real, analisando as condições em que a escola recebe os alunos com necessidades especiais e como assegura aprendizagem, possibilitando a integração entre educação regular e especial.
Nas escolas inclusivas as pessoas se apóiam mutuamente e suas necessidades específicas são atendidas por seus pares, sejam colegas de classe, de escola ou profissionais de áreas. A pretensão dessas escolas é a superação de todos os obstáculos que as Impedem de avançar no sentido de garantir um ensino de qualidade (MADER,1997)
Conforme Mader (1997), é necessário construir uma política de igualdade com seriedade e responsabilidade, possibilitando ações significativas e de qualidade na prática de educação inclusiva.
Há um emergente consenso de que as crianças e jovens com necessidades educacionais especiais devem ser incluídas nos planos educativos feitos para a maioria das crianças. Isto levou ao conceito de escola inclusiva. O desafio para uma escola inclusiva é o de desenvolver uma pedagogia capaz de educar com sucesso todos os alunos, incluindo aqueles com deficiência e desvantagens severas (SALAMANCA, 1994, p.6)
Mantoan (2003), enfatiza que reconstruir os fundamentos de escola de qualidade para todos, remete-se em questões específicas relacionadas ao conhecimento e a aprendizagem, ou seja, consideram-se que o ato de educar supõe intenções, representações que temos do papel da escola, do professor, do aluno, conforme os paradigmas que os sustentam. A autora ainda relata que a escola inclusiva exige mudanças de paradigmas, que podem ser definidos como modelos, exemplos abstratos que se materializam de modo imperfeito no mundo concreto. Possa também ser entendida, segundo uma concepção moderna, como um conjunto de regras, normas, crenças, valores, princípios que são partilhados em um grupo em um dado momento histórico e que norteiam o nosso comportamento, até estarem em crise, porque não nos satisfazem mais, não nos dão mais conta dos problemas que temos para solucionar.
Ainda nos dias atuais a inclusão é vista como um desafio, causando angústias e expectativas em grande parte dos profissionais da educação. Porém, mais amenas que em tempos passados, pelo fato de que, ao ser devidamente aceita pela escola, desencadeia um compromisso com as práticas pedagógicas que favorecem todos os alunos, ou seja, uma verdadeira mudança na concepção de ensino, visando uma aprendizagem significativa, inclusiva e de qualidade.
Não há mais sentido em preservar modelos de ensino tradicional, desrespeitar as diferenças, mantendo uma escola excludente. O artigo 208 Constituição Federal, § 1º reza que “O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público e subjetivo”. Ainda no artigo 208 descreve que o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, deve ser preferencialmente na rede regular de ensino.
E já no século XXI, a escola que se tem, que se precisa é aquele que tem compromisso com a formação integral do cidadão, de um cidadão crítico, participativo e criativo, que atenda as demandas e a competitividade do mundo atual, com as rápidas e complexas mudanças da sociedade moderna. Assim, a educação escolar no exercício da cidadania implica na efetiva participação da pessoa na vida social, cabendo-lhe o respeito e a solidariedade, poupada a sua dignidade, a igualdade de direitos e repelido quaisquer forma de discriminação.
Mantoan (2003), acreditando no desenvolvimento dos alunos com necessidades educacionais especiais, aponta algumas estratégias que ajudam no trabalho do corpo docente, como na aprendizagem dos alunos;
- Colocando como eixo das escolas que toda criança é capaz de aprender;
- Garantido tempo e condições para que todos possam aprender de acordo com as possibilidades de cada um;
- Abrindo espaço para que a cooperação, o dialogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam exercitados por alunos, professores, gestores e funcionários da escola;
- Estimulando, formando continuamente e valorizando o professor, que é o responsável pela aprendizagem dos alunos.
- Substituindo o caráter classificatório de avaliação escolar, através de notas e provas, por um processo que deverá ser contínuo e formativo de todo o processo de ensino e aprendizagem.
A inclusão, portanto, implica em práticas pedagógicas inovadoras visando o sucesso de aprendizagem de todos os alunos.
2.2 Importância dos valores, princípios e atitudes
Segundo Sassaki (1997), a igualdade entre as pessoas é o valor fundamental quando tratamos de escolas para todos. Podemos encará-los de vários ângulos, mas em todo o sentido da igualdade não se esgota no indivíduo, expandindo as considerações para aspectos da natureza política, social, econômica.
Para Delours (1998), a igualdade não está em desacordo com o respeito às diferenças entre as pessoas, mas sim na valorização na capacidade de cada ser humano em suas realizações. Assim quando se trata de proporcionar oportunidades iguais e justas para todos, tem-se muito ainda por fazer nas escolas para corresponder ao princípio segundo o qual os seres humanos têm direito à dignidade, sejam quais forem as suas capacidades ou realizações. A observância deste princípio é limitada por predisposições que nos levam a responder situações ou a outras pessoas de modo desfavorável, tendo em vista um dado valor. No caso da igualdade entre pessoas, as barreiras se materializam na recusa em reconhecer e defender este valor, por meio de comportamentos, reações, emoções e palavras.
Para Delours (1998), a existência dessas barreiras comprova a cultura de desigualdade marcante nas escolas, influenciando todos os procedimentos e discursos de seus membros, chegando mesmo ao atingir os alunos e os pais. Em uma palavra, a igualdade entre as pessoas é um valor esquecido nos padrões e concepções da escola tradicional.
Segundo Machado (2001) ainda existem  diretores, professores e pais que apresentam uma certa “ignorância” em aceitar que o perfil dos alunos mudou que as crianças e adolescentes de hoje não são mais os mesmos que tiveram acesso à escola do passado. O preconceito é destacado quando se trata do aluno com dificuldades para aprender por ser ou por estar deficiente, do ponto de vista intelectual, social, afetivo, emocional, físico, cultural e outros. Existem também preconceitos de alunos de raça negra, de famílias de religiões populares, filhos de famílias desestruturadas, de mães solteiras e pais omissos, drogados e marginalizados.
Nesse sentido, ressalta-se que apesar da escola não ser capaz de sozinha efetuar transformações sociais, é ela quem pode estabelecer os primeiros princípios de uma inclusão escolar. Portanto, a escola como espaço inclusivo, deve considerar como seu principal desafio, o sucesso de todos os alunos, sem nenhuma exceção.
2.3 A importância da família no processo educacional
O envolvimento da família no processo educacional da criança é uma necessidade e de muita importância. A família deve ser orientada e motivada a colaborar e participar do programa educacional, promovendo desta forma uma interação maior com a criança. Também é fundamental que a família incentive a pratica de tudo que a criança assimila.
A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino não se restringe aos esforços da escola, inclui também a construção de redes de colaboração com a família e a sociedade fortalecendo o combate à intolerância e às barreiras atitudinais, bem como a compreensão da diversidade no desenvolvimento infantil (ARRUDA; ALMEIDA, 2004, p. 16)
A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura. Assim, a qualidade da estimulação no lar e a interação dos pais com a criança se associam ao desenvolvimento e a aprendizagem de crianças com necessidades educacionais especiais
Os pais e familiares de crianças com necessidades educacionais especiais necessitam de informações sobre a natureza e extensão da excepcionalidade; quanto aos recursos e serviços existentes para a assistência, tratamento e educação, e quanto ao futuro que se reserva ao portador de necessidades especiais.
O objetivo principal é ajudar pessoas a lidar mais adequadamente com os problemas decorrentes das deficiências, e no aconselhamento alguns pontos são importantes: ouvir as dúvidas e questionamentos, utilizar termos mais fáceis e que facilitem a compreensão, promover maior aceitação do problema, aconselhar a família inteira, trabalhar os sentimentos e atitudes, e facilitar a interação social do portador de necessidades especiais. A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. (BRASIL, 1998, p. 24)
A superproteção dos pais em relação à criança pode influenciar de forma negativa no processo de desenvolvimento da criança, e normalmente, estes concentram suas atenções nas deficiências da criança de modo que os fracassos recebem mais atenção que os sucessos e a criança fica limitada nas possibilidades que promovem a sua independência e a interação social.
As habilidades de autonomia pessoal e social proporcionam melhor qualidade de vida, pois favorecem a relação, a independência, interação, satisfação pessoal e atitudes positivas. Alunos com necessidades educacionais especiais devem ter a oportunidade de participar de forma significativa e integral nas atividades escolares regulares (ARRUDA; ALMEIDA, 2004, p. 16)
2.4 Estudo de caso com alunos com necessidades especiais no ensino regular
2.1.1 Metodologia
Para a elaboração da pesquisa, segundo os objetivos, o delineamento metodológico teve como suporte a utilização de uma bibliografia diversificada sobre o assunto, e por uma parte prática, que foi realizada em uma Unidade Escolar Pública de Ensino Regular, com crianças com necessidades especiais matriculas e frequentando o 6º ano do Ensino Fundamental – Ciclo II.
Definir a metodologia significa realizar uma escolha de como se pretende investigar a realidade, baseando-se num problema ou numa oportunidade real de uma situação.
Segundo Pádua (1996, p. 33) a pesquisa bibliográfica abrange a leitura, análise e interpretação de livros, textos legais, mapas, fotos, etc. Todo material recolhido deve ser submetido a uma triagem, a partir da qual é possível estabelecer um plano de leitura. Trata-se de uma leitura atenta e sistemática que se faz acompanhar de anotações e fichamentos que, eventualmente, servirão à fundamentação teórica do estudo.
Após a pesquisa bibliográfica partiu-se para a parte prática através do estudo de caso, que foi realizado em uma Unidade Escolar Pública de Ensino Regular, sendo que a população analisada foram três alunos de inclusão do 6º ano do Ensino Fundamental – Ciclo II, com necessidades especiais e características semelhantes, atendidos na referida instituição. Esses alunos foram recebidos de uma escola municipal da cidade que encaminhou as fichas individuais para a atual escola, o que facilitou as observações, análises e acompanhamento pedagógico pela equipe escolar da atual Unidade.
O estudo de caso é o estudo de um caso, seja ele simples e específico, ou complexo  e  abstrato. O estudo de caso, quando qualitativo, se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.18).
Para o desenvolvimento deste trabalho, na parte referente ao estudo de caso, primeiramente ocorreu uma visita à Instituição de Ensino para uma conversa com a Diretora e Professores da Escola, para conhecer a clientela e as queixas sobre os problemas de aprendizagem dos alunos.
2.4.2  Estudo de Caso
Inicialmente a escola apresentou as fichas individuais dos alunos de inclusão, alvo dessa pesquisa que apresentam dificuldades de socialização ou adaptação em relação à sala de aula regular, e isso vem acarretando dificuldades na aprendizagem e comportamento inadequado por parte dos três alunos de inclusão que frequentam a o 6º ano do Ensino Fundamental, Ciclo II.
Partindo da queixa apresentada pela escola, começamos a ter contato com a sala de aula e diálogo com a professora sobre as dificuldades que enfrentava na sala de aula. Observando a sala de aula do 6º anos do Ensino Fundamental, Ciclo II e os alunos dessa sala, analisamos que os alunos apresentam dificuldades de atenção e concentração, dificuldades de leitura e escrita, problemas de comportamento e até de agressividade.
A partir daí, o estudo de caso procedeu-se envolvendo a observação de fatos referente à queixa apresentada pela escola em relação às dificuldades de socialização e interação dos alunos em estudo com os demais colegas da sala, negação em participar das aulas e agressividade em relação aos colegas da sala.
Considerando a queixa da professora da sala e as informações sobre as dificuldades de socialização e participação nas atividades, iniciou-se a coleta de dados referentes ao comportamento dos alunos, dificuldades de aprendizagem e atitudes que geram agressividade por parte desses  alunos.
Através da observação dos três alunos na sala de aula, foi possível analisar que os mesmos são inquietos, dispersos e não demonstram interesse pelas atividades. Isso vem acarretando problemas que geram indisciplina, afetando o bom andamento das atividades e consequentemente o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
De modo geral, a maioria das crianças dessa sala apresenta algum problema sócio-afetivo. Pode-se constatar também um desconhecimento e negação pelas necessidades especiais desses alunos por parte de alguns colegas da sala, que acabam se afastando e rotulando esses alunos em estudo.
Diante da situação os alunos de inclusão ficam a maior parte do tempo sem participar das atividades. Apenas observando, como se não fizessem parte do ambiente, tornando-se irritados, agressivos e se negando em permanecer na sala de aula. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelece o direito à educação para todos, e a Constituição Federal em seu art. 206 destaca os princípios eminentemente democráticos, cujo sentido é nortear a educação, com igualdade de condições não só para o acesso, mas também, para a permanência na escola e a liberdade de aprender e ensinar. De acordo com a legislação todos têm direitos de educação de qualidade, porém os alunos de inclusão, ao invés de se sentirem iguais, estão se isolando pela falta de integração educacional, afetiva e social com os  demais alunos.
O que vem acontecendo com esses alunos é totalmente contrário ao que diz Sassaki (1997), pois para o autor uma educação comprometida com a cidadania e com a formação de uma sociedade democrática e não-excludente deve promover o convívio com a diversidade, pois ela é uma característica da vida social brasileira; e para isso a escola deve ser inclusiva, tendo como meta uma educação comprometida com todos os cidadãos, almejando o fortalecimento de uma sociedade democrática, justa e solidária.
Baseado em teorias e legislações referentes aos assuntos relacionados à inclusão, começamos a observar a prática docente e o acolhimento por parte da escola. Notamos que a professora preocupa-se muito com o conteúdo programado, conteúdo esse que não atende todas as diversidades e necessidades dos alunos, desconsiderando a interação entre os alunos, principalmente para os alunos de inclusão. O ambiente escolar que deve ser acolhedor, que deve ser um espaço inclusivo, acaba se tornando um espaço de diferenças.
Continuando as observações e análises sobre o estudo de caso realizado no 6º ano do Ensino Fundamental, com os três alunos de inclusão, verificou-se que prevalece a dificuldade de socialização na sala de aula, e que os alunos necessitam de uma interação grupal, detectada durante as aulas, pois os alunos, muitas vezes se comportam como adversários, havendo pouca cooperação e companheirismo.
Outro fator observado durante a pesquisa é a falta de atenção e a baixa auto-estima dos alunos, que influenciam no desenvolvimento da aprendizagem dos mesmos.
No campo afetivo, é necessário ajudar as crianças a criar sentimentos positivos, em relação a si mesma, fazendo com que ela se sintam valiosas e seguras. Dessa forma o êxito escolar estará garantido.
No campo cognitivo, recomenda-se enriquecer e ampliar o vocabulário da criança. A ênfase no aprendizado de novas palavras tem como objetivo possibilitar a obtenção de melhores resultados na escola e também ajudar a criança a ordenar o pensamento em função do mundo em que vive e fazê-la sentir-se capaz, aceita e valiosa.
Além da expressão oral e da ordenação do pensamento infantil há o desenvolvimento do raciocínio lógico - matemático, da psicomotricidade, e do aspecto sócio-emocional contribuindo adequadamente para que esse "sujeito" (a criança), seja ajudado na sua totalidade, onde todas as partes do desenvolvimento são atendidas adequadamente.
Acreditando nesta interelação, não podemos tratar isoladamente cada parte deste processo do crescimento infantil, pois o cognitivo depende do afetivo, que influi no psicológico, que está relacionado ao psicomotor, ao físico, ao emocional. Portanto é fundamental que haja preocupação com todos os aspectos do desenvolvimento infantil, pois todos são igualmente importantes, e se processam simultaneamente.
Tendo em vista que o professor, o coordenador pedagógico também tem a função de ajudar a criança a reintegrar-se à vida escolar normal, torna-se necessário uma investigação cuidadosa, com o objetivo de levantar hipóteses aos desvios de comportamento e dificuldades na aprendizagem.
Há necessidade de maior interação entre o grupo, poucos se  dispõem a ajudar os colegas. Nessa relação prevalece a comunicação oral, facial e gestual, sendo que na relação aluno x aluno, fica mais evidente a falta de entrosamento e solidariedade, o que não é  satisfatório para que aconteça a verdadeira inclusão dos alunos.
De acordo com os dados coletados percebemos que na área pedagógica é preciso repensar a prática docente, com estratégias diferenciadas para a realização das atividades.
Na área cultural, constatou-se na sala de aula uma barreira entre os alunos de inclusão com os demais alunos da sala, não socialização, e um distanciamento entre os mesmos, que são agrupados de acordo com suas qualificações e dificuldades.
Na área afetivo-social percebemos características semelhantes como a pouca comunicação, baixa auto-estima, sentimento de desqualificação, isolamento e até a necessidade de mais envolvimento da família.
Para analisar as dificuldades de aprendizagem em relação à leitura, escrita e cálculos foram aplicadas atividades escritas e através de jogos, em que pudemos observar que os jogos e materiais concretos estimulam mais os alunos, despertando o interesse e a participação.
Os alunos quando motivados a aprender em ritmos de cooperação retribuem este ato com os amigos e todos se envolvem em um processo de aprendizagem. Durante essas atividades, observamos que há mais aproximação entre os alunos de forma cooperativa, porém esse trabalho só terá resultados plenamente satisfatórios de médio a longo prazo, até que os alunos sintam-se realmente integrados uns com os outros.
3 Considerações finais
Através da realização do trabalho que se pautou em pesquisa bibliográfica e estudo de caso, foi possível alcançar os objetivos propostos de analisar a política de inclusão e os seus reflexos nos processos de socialização e de aprendizagem de alunos com necessidades especiais, observando sistematicamente o interesse e o comportamento dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, decorrentes das suas necessidades educacionais especiais. Através das observações também realizamos uma análise sobre o cotidiano da escola, verificando até que ponto a escola está realmente sendo um espaço inclusivo.
A legislação e os textos pesquisados para a elaboração desse trabalho sobre educação inclusiva deixam bem claro que renovação pedagógica exige, em primeiro lugar, que a sociedade e a escola adaptem-se ao aluno com necessidades especiais, e não o contrário. Em segundo, que o professor, que é considerado o agente determinante da transformação da escola, deve ser preparado adequadamente para gerenciar o acesso às informações e conhecimentos por parte dos alunos.
Percebemos que nem todos os professores estão preparados para a educação inclusiva, e isso pode ocasiona resistências de alguns às inovações educacionais, como a inclusão, ao considerarem que a proposta de uma educação para todos é válida, porém impossível de ser concretizada, levando em conta o número de alunos e as circunstâncias em que se trabalha nas escolas da rede pública de ensino. Demonstra-se, mais do que nunca, que os professores devem capacitar-se, acreditar e, principalmente, aceitar a inclusão, tornando, assim, a sua sala de aula um ambiente propício à construção do conhecimento, tanto do aluno com necessidades especiais, quanto dos demais.
Portanto, a escola como espaço inclusivo deve considerar como seu principal desafio, o sucesso de todos os alunos, sem nenhuma exceção.
4 Referências bibliográficas
ARRUDA, Marco Antônio; ALMEIDA  Mauro de.  Cartilha da inclusão escolar: Inclusão Baseada em Evidências Científicas. Rio Preto: ABDA, 2014.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Rio de Janeiro: FAE,  1989.
________. Declaração de Salamanca. Brasília, DF: UNESCO,1994.
________.  Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
________. Os direitos das pessoas portadoras de deficiência. Brasília, Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Corde, 1996.
_________. Plano Nacional de Educação. Brasília: MEC, 1996, p. 58.
_________. RESOLUÇÃO Nº 2, de 11 de setembro de 2001. Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: CNE/CEB, 2001.
BRASIL. Ministério Público Federal. Fundação Procurador Pedro Jorge de Melo e Silva. O acesso de alunos com deficiência às escolas e classe comum da rede regular. 2ª ed. Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. Brasília, 2004.
DELORS, Jaques (0rg) Educação um tesouro a descobrir – relatório para a comissão internacional sobre educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 1998.
LUCKE, M. ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MADER, Gabrielle. Integração da pessoa portadora de deficiência: a vivência de um novo paradigma. São Paulo, Memnon, 1997.
MACHADO, Nilson José. Pensando e fazendo educação de qualidade. São Paulo: Moderna, 2001.
MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
PÁDUA, E. M. M. Metodologia de pesquisa: abordagem teórica prática. Campinas: Papirus, 1996.
SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.
UNESCO – Organização das nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura / Ministério da Educação e Ciência da Espanha / Coordenadoria nacional para Integração da pessoa portadora de deficiência. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília, 1994.
WERNECK, Claudia. Ninguém mais ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA, 1997.

Fonte: Brasil Escola - https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-inclusao-alunos-com-necessidades-especiais-no-ensino-regular.htm

Aprendizagem em foco

m uma década, o número de alunos com alguma deficiência cursando o ensino médio triplicou. Mesmo assim, eles representam apenas 0,8% do total de matrículas neste nível de ensino, de acordo com o Censo Escolar do MEC de 2015. Em números absolutos, são apenas 62 mil, num universo de cerca de 8 milhões de alunos. O crescimento do número de estudantes com alguma deficiência é verificado em todas as etapas da educação básica, mas o movimento de inclusão vai perdendo força até chegar ao ensino médio.
No primeiro ciclo do ensino fundamental, os alunos com deficiência correspondem a 2,9% do total de matrículas, proporção que diminui para 1,8% na segunda etapa deste nível de ensino, atingindo apenas 0,8% no ensino médio. Os dados sinalizam que, apesar dos avanços ao longo dos anos, muitos estudantes vão ficando pelo caminho e abandonam as escolas.
Ainda que os desafios de acesso e progressão continuem significativos, a análise dos dados de todos os cerca de 900 mil alunos com alguma deficiência matriculados em todos os níveis da educação básica revela que houve avanço expressivo na proporção desses estudantes matriculados em classes comuns. Em 1998, apenas 13% conviviam com as demais crianças nas mesmas salas de aula. Em 2014, este percentual já era de 79%, sendo 98% no ensino médio, em que pese ainda serem poucos os jovens com deficiência que chegam até este nível de ensino.
Este crescimento foi resultado de diversas políticas públicas adotadas nesse período que sinalizaram para o direito dessas crianças, jovens e adolescentes à escola comum. No ano de 2008, por exemplo, foi aprovada a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. A Política segue as diretrizes legais estabelecidas em níveis internacional e nacional, preconizadas, entre outras referências, pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU), de 2006.

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

De acordo com a Política, cabe à educação especial atuar, por meio dos professores responsáveis pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) e de serviços e recursos ofertados nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), em favor da eliminação e minimização dos efeitos excludentes das barreiras de qualquer natureza (físicas, arquitetônicas, comunicacionais, sociais e atitudinais) que dificultem ou impeçam a convivência e a aprendizagem dos estudantes com deficiência em turmas comuns.
Apesar do arcabouço legal e das políticas educacionais orientarem para a inclusão dos estudantes com deficiência nas turmas comuns, tal processo esbarra num conjunto de problemas que afetam a educação básica brasileira como um todo, com forte repercussão no ensino médio. Entre elas, a principal é o baixo nível de aprendizagem ao longo do ensino fundamental, cujas consequências, muitas vezes, são a reprovação e o abandono da escola. Tal movimento não se restringe aos estudantes com deficiência, transtornos globais ou com altas habilidades, mas as barreiras tendem a ser maiores para esta população.

CURRÍCULO EXTENSO É ENTRAVE

Além das barreiras econômicas (que afetam de maneira mais intensa a população com alguma deficiência), há também aquelas existentes no próprio ambiente escolar. Do modelo de ensino predominante à organização curricular fragmentada em disciplinas estanques, passando por práticas pedagógicas massificadoras, orientadas pela ideia de que todos os alunos aprendem ao mesmo tempo e da mesma forma, todos esses fatores contribuem para que o desafio da democratização do acesso ao sistema escolar seja mais acentuado para os adolescentes e jovens com deficiência.
Um dos desafios é a superação de uma escola que funcione com um currículo composto por um elenco extenso de disciplinas e focada em preparar seus estudantes para o vestibular. Nesse sentido, Eliane de Souza Ramos, pesquisadora do Laboratório de Estudo e Pesquisa em Ensino e Diferença da Unicamp, defende que é importante que a escola ancore-se na realidade local através de um Projeto Político Pedagógico (PPP) que represente, organize e sistematize os propósitos educacionais em ações alinhadas com as demandas e necessidades de todo o grupo – equipe gestora, professores comuns e de educação especial, tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais, guias, intérpretes, cuidadores, funcionários, alunos e familiares.
O professor de AEE pode desempenhar um papel essencial no sentido de eliminar barreiras, a fim de favorecer o desenvolvimento, a aprendizagem, bem como a convivência e o compartilhamento de interesses entre os estudantes – independentemente de terem deficiência ou não. Para tanto, ele deve trabalhar em parceria com professores da sala comum, apoiando-os no sentido de propor estratégias, recursos e tecnologias que eliminem ou minimizem as barreiras existentes na escola e que impedem a convivência, o desenvolvimento e a aprendizagem entre todos os alunos.
Rodrigo Mendes, diretor-executivo do Instituto Rodrigo Mendes, destaca que promover a interação do professor de AEE com os docentes da sala comum é um desafio que se apresenta no ensino médio, em função da tendência de fragmentação do currículo e, consequentemente, do grande número de professores.
A superação desse desafio depende, no nível das políticas educacionais, de uma reformulação do ensino médio, mas também se efetiva no nível da escola na medida em que as equipes se organizem e trabalhem buscando essa interação. Foi o que aconteceu na Escola Estadual de 1º e 2º graus Coronel Pilar, em Santa Maria (RS). A instituição recebe alunos com deficiência desde a década de 1990, matriculados inclusive no ensino médio. Ao longo do tempo, a escola desenvolveu um trabalho que possibilita o avanço desses estudantes, no qual a interação dos professores da sala de aula e de AEE é um dos eixos. A experiência da instituição revela um percurso que se constrói no cotidiano, na medida em que as demandas surgem, seja por parte do professor, seja por parte do aluno.

Fonte:

EQUIDADE

INCLUSÃO AUMENTA, MAS ACESSO AO ENSINO MÉDIO AINDA É DESAFIO



Revista Nova Escola - Inclusão e os desafios

Os desafios da Educação inclusiva: foco nas redes de apoio

Para fazer a inclusão de verdade e garantir a aprendizagem de todos os alunos na escola regular é preciso fortalecer a formação dos professores e criar uma boa rede de apoio entre alunos, docentes, gestores escolares, famílias e profissionais de saúde que atendem as crianças com Necessidades Educacionais Especiais

POR:
Daniela Alonso
Foto: Marcelo Min1. Inclusão no Brasil e Educação especial na escola regular
João Guilherme dos Santos, aluno defiente físico, com seus colegas da Unidade Integrada Alberico Silva. Foto: Maurício Moreira
Foto: Maurício Moreira
João Guilherme dos Santos, aluno com deficiência física, com seus colegas da Unidade Integrada Alberico Silva, em São Luís.
A especialista em Educação Inclusiva, Daniela Alonso. Foto: Gabriela Portilho
Daniela Alonso, especialista 
em Educação Inclusiva 
e selecionadora do Prêmio Victor 
Civita Educador Nota 10
O esforço pela inclusão social e escolar de pessoas com necessidades especiais no Brasil é a resposta para uma situação que perpetuava a segregação dessas pessoas e cerceava o seu pleno desenvolvimento. Até o início do século 21, o sistema educacional brasileiro abrigava dois tipos de serviços: a escola regular e a escola especial - ou o aluno frequentava uma, ou a outra. Na última década, nosso sistema escolar modificou-se com a proposta inclusiva e um único tipo de escola foi adotado: a regular, que acolhe todos os alunos, apresenta meios e recursos adequados e oferece apoio àqueles que encontram barreiras para a aprendizagem.
Educação inclusiva compreende a Educação especial dentro da escola regular e transforma a escola em um espaço para todos. Ela favorece a diversidade na medida em que considera que todos os alunos podem ter necessidades especiais em algum momento de sua vida escolar.
Há, entretanto, necessidades que interferem de maneira significativa no processo de aprendizagem e que exigem uma atitude educativa específica da escola como, por exemplo, a utilização de recursos e apoio especializados para garantir a aprendizagem de todos os alunos.
A Educação é um direito de todos e deve ser orientada no sentido do pleno desenvolvimento e do fortalecimento da personalidade. O respeito aos direitos e liberdades humanas, primeiro passo para a construção da cidadania, deve ser incentivado.
Educação inclusiva, portanto, significa educar todas as crianças em um mesmo contexto escolar. A opção por este tipo de Educação não significa negar as dificuldades dos estudantes. Pelo contrário. Com a inclusão, as diferenças não são vistas como problemas, mas como diversidade. É essa variedade, a partir da realidade social, que pode ampliar a visão de mundo e desenvolver oportunidades de convivência a todas as crianças.
Preservar a diversidade apresentada na escola, encontrada na realidade social, representa oportunidade para o atendimento das necessidades educacionais com ênfase nas competências, capacidades e potencialidades do educando.
Ao refletir sobre a abrangência do sentido e do significado do processo de Educação inclusiva, estamos considerando a diversidade de aprendizes e seu direito à equidade. Trata-se de equiparar oportunidades, garantindo-se a todos - inclusive às pessoas em situação de deficiência e aos de altas habilidades/superdotados, o direito de aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver. (CARVALHO, 2005).

Para ler o conteúdo integral acesse:
https://novaescola.org.br/conteudo/554/os-desafios-da-educacao-inclusiva-foco-nas-redes-de-apoio?gclid=EAIaIQobChMIkreK0oLk4wIVxgWRCh3gWAFGEAAYAiAAEgJfJvD_BwE 

Inclusão e desafios

Qual é o preparo necessário para incluir um estudante com deficiência?

Apesar do consenso de que a participação das pessoas com deficiência é um direito inquestionável, muitos professores e gestores escolares ainda resistem, declarando-se despreparados para concretizá-la. Até mesmo educadores que se dizem favoráveis à inclusão de pessoas com deficiência admitem exceções, alegando não terem o “preparo necessário”.
Já em 1994, a Declaração de Salamanca Site externo enfatizava de forma quase redundante que “educação para todos efetivamente significa para todos”. Requisitos, restrições e exceções são inerentes à lógica da integração. Na inclusão, todos têm direito à educação. E “todos” significa todos. Simples assim. E não se trata só de acesso. A Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, ratificada no Brasil com equivalência de emenda constitucional em 2008, garante participação efetiva, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, para o pleno desenvolvimento do potencial do educando.
Mas tal garantia não indica que a escola saberá, de antemão, como fazer isso. Até porque isso nem seria possível. Durante muito tempo, acreditava-se que era possível generalizar pessoas e, assim, padronizar estratégias terapêuticas e pedagógicas a partir de um mesmo quadro diagnóstico. Atualmente, já sabemos, por experiência, que essa noção é no mínimo simplista. Ainda que apresentem pareceres diagnósticos absolutamente iguais, duas pessoas podem reagir às mesmas intervenções de maneiras (bem) diferentes. Ou seja, a ideia do preparo prévio nada mais é que um mito.
Não há “receitas prontas” nesse sentido. O ativo é a presença. Ou seja, a escola não tem mesmo como saber, antecipadamente, como proceder com uma criança ou adolescente com base em seu diagnóstico. E isso não se aplica somente a pessoas com alguma deficiência, já que a diferença é própria da condição humana. O processo de aprendizagem de cada estudante é singular.

O mito do preparo

A ideia de que a escola precisa, antes, estar pronta, para depois receber os alunos com deficiência é baseada em uma expectativa ilusória de um saber pronto capaz de prescrever como trabalhar com cada criança. Vygotsky enfatiza que a condição humana não é dada pela natureza, mas construída ao longo de um processo histórico-cultural, pautado nas interações sociais realizadas entre o homem e o meio. Ou seja, o preparo do professor no contexto da educação inclusiva é o resultado da vivência e da interação cotidiana com cada um dos educandos, com e sem deficiência, a partir de uma prática pedagógica dinâmica que reconhece e valoriza as diferenças. Não há especialização capaz de antever o que somente no dia a dia poderá ser revelado.
Além disso, a insegurança expressa no argumento da falta de preparo revela, muitas vezes, a fragilidade da escola em lidar com a diferença. Por trás do discurso aparentemente “responsável” de que as escolas não estão prontas para receber determinados alunos por serem incapazes de suprir suas necessidades, de lidar com as suas dificuldades e de oferecer recursos ou pessoal adequados, está, muitas vezes, a noção de que alguns estudantes não são ou não estão aptos a frequentá-las devido a suas condições, o que remete à lógica da integração.

Como incluir um aluno que desafia a escola?

A educação inclusiva é um processo contínuo e dinâmico, que implica a participação de todos os envolvidos, inclusive do próprio educando. Por isso, é importante, antes de qualquer coisa, garantir sua presença na escola. Para que a equipe pedagógica possa conhecê-lo bem e assim buscar identificar meios de garantir sua inclusão efetiva.
Em uma das respostas à pergunta “Como fazer adaptações curriculares para alunos com deficiência intelectual?”, do fórum da Comunidade DIVERSA, a assessora em Educação Inclusiva Marília Costa Dias enfatiza a importância de isso acontecer de modo colaborativo. Todos os envolvidos, inclusive a família, precisam participar desse processo investigativo. Marília aponta também a importância de “oferecer apoios aos estudantes que precisam de algum tipo de ajuda para realizar as propostas” a fim de garantir o “direito à igualdade de oportunidades”, reiterando que “é preciso conhecer muito bem os alunos para saber qual é o apoio que necessitam”. A propósito, a Convenção da ONU, já mencionada, garante medidas de apoio para pessoas com deficiência, no âmbito do sistema educacional geral, objetivando sua “inclusão plena”. A principal medida de apoio é o atendimento educacional especializado (AEE).
Uma escola inclusiva é uma escola que inclui a todos, sem discriminação, e a cada um, com suas diferenças. Perseguindo a aprendizagem de forma ampla e colaborativa, oferecendo oportunidades iguais para todos e estratégias diferentes para cada um, de modo que todos possam desenvolver seu potencial.

Raquel Paganelli é mestre em educação inclusiva pelo Instituto de Educação da University College of London, atua nas áreas de consultoria e formação de professores e faz parte da equipe DIVERSA.