quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Professor, lembre-se que o aluno autista é diferente, porém capaz!

As práticas que o professor deve adotar na sala de aula:




Um exemplo de como os autistas são literais na comunicação:



fonte: http://psicologaraquelpinheiro.blogspot.com.br/2017/06/

AUTISMO - Raquel Francisco Pinheiro - Psicóloga e Neuropsicopedagoga CRP 12/09651 AUTISMO-BLUMENAU:

AUTISMO - Raquel Francisco Pinheiro - Psicóloga e Neuropsicopedagoga CRP 12/09651 AUTISMO-BLUMENAU:



fonte: http://psicologaraquelpinheiro.blogspot.com.br/2017/06/


OS SENTIDOS




Os 7 sentidos

Estimular a parte sensorial de um autista (em casa e com a ajuda de uma terapeuta ocupacional) é muito importante. Trabalhar os sete sentidos é fundamental para ajudar a desenvolver todas as atividades necessárias para casa, escola, trabalho, para ter uma vida independente e autônoma.
Cada quadro mostra as características das pessoas hipersensíveis ou hiposensíveis. O bacana é que também podemos visualizar dicas de como podemos trabalhar cada sentido! Brincar é muito importante! Use tinta, massinha, cola, tesoura, lápis de cor, músicas, etc. Brinque no banho, na cozinha, no quarto… torne cada aprendizado muito divertido!
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A importância da Terapia Ocupacional

Oie!!! Voltamos com um tema super importante (qual não é? hahaha). Vamos falar de uma característica associada ao autismointegração sensorial.
A integração sensorial é o processo pelo qual o cérebro organiza as informações, de modo a dar uma resposta adaptativa adequada, organizando assim, as sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente do mesmo no ambiente. As nossas capacidades de processamento sensorial são usadas para a interação social; desenvolvimento de habilidades motoras e para a atenção e concentração.
O PROCESSAMENTO SENSORIAL inclui a recepção de um estímulo físico (Registo Sensorial), a transformação do estímulo num impulso neurológico (Orientação), e a percepção (Interpretação), ou seja, o consciente experimenta as sensações e em seguida organiza uma resposta adaptativa adequada e executa-a. As funções de processamento sensorial ocorrem continuamente e de uma forma rápida e inconsciente. (Um exemplo deste processo é a reação após tocar numa superfície quente)
Todos temos dificuldade em processar determinados estímulos sensoriais (um certo toque, olfato, paladar, som, movimento, etc) e todos temos preferências sensoriais. Só se torna um transtorno do processamento sensorial quando temos uma “experiência perturbadora”, uma enxurrada de estímulos com um impacto significativo sobre a capacidade de filtragem ou funcionamento diário. Esse processo gera uma disfunção neurológica chamada Transtorno do Processamento Sensorial (TPS).
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Através desse quadro e do link no começo do post, vocês podem conhecer alguns sinais de TPS. Quando existem distúrbios sensoriais, estes podem afetar o desenvolvimento e as habilidades funcionais, quer sejam no comportamento, na parte motora, cognitiva, quer sejam no nível emocional. Isso pode resultar em sentimentos de baixa auto-estima, levando-os a preferir o isolamento ao invés de interagir com os seus pares. Algumas pessoas apresentam excesso de reatividade o que pode levá-los a serem rotuladas como impertinentes, “fora de controle” ou perturbadoras nas aulas, afetando seu desempenho acadêmico na escola. E, infelizmente, a má compreensão dos pais e educadores em como responder às crianças com esse tipo de desordem, muitas vezes leva a sentimentos de frustração, possível depressão ou comportamento agressivo.
Os pais costumam saber e entender, melhor que ninguém, as crianças e, por isso, são capazes de perceber quando elas estão felizes ou sofrem por qualquer motivo. Mas às vezes é a causa de felicidade ou frustração que não é compreendida, e se nós a entendermos, é mais fácil desenvolver ações que ajudam no desenvolvimento do filho/filha.
Às vezes pedimos para as crianças certos comportamentos ou execuções de algumas tarefas e elas ainda não estão prontas, ou seja, ainda não adquiriram competências necessárias para tal. Por exemplo, com a idade de cinco anos, a criança desenvolve a parte de percepção motora como a coordenação olho-mão, controle de olho-mão, ajuste postural, organização espacial, estruturação espaço-tempo, manter a atenção – processos que são pré-requisitos para o bom desenvolvimento de habilidades motoras finas e suas competências acadêmicas básicas, tais como a escrita. Isto quer dizer que com quatro anos essa criança não está pronta para escrever.
É importante deixar claro que existe uma ordem no desenvolvimento da aprendizagem. Wiliams e Shellenberger (1996) formularam uma pirâmide para ilustrar esse processo.


Educação Formal

Escolarização formal e dimensões curriculares para alunos com autismo: o estado da arte da produção acadêmica brasileira

Formal schooling and curricular dimensions for students with autism: the state of art of brazilian academic production


Anderson Jonas das NevesI; Carolina de Santi AntonelliII; Mariana Girotto Carvalho da SilvaIII; Vera Lúcia Messias Fialho CapelliniIV
IMestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem  da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Bauru) e  membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Comportamento, Cognição e Ensino (INCT-ECCE); Email: filosofoajn@gmail.com
IIMestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Bauru), Email: carolina_santonelli@yahoo.com.br
IIIMestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Bauru), Email: marianagirotto@ig.com.br
IVDoutora em Educação Especial Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR); Professora do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Bauru); Membro do Observatório Nacional de Educação Especial, Email: vlmfcapellini@gmail.com



RESUMO
A mediação do conhecimento é um dos deveres da educação, independentemente dos atributos físicos e mentais do alunado. Dado que o currículo pode configurar-se como uma barreira pedagógica para a escolarização formal de indivíduos com autismo, este estudo objetivou mapear a produção acadêmica nacional, disponível no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (BTD-CAPES) sobre o processo de escolarização formal e as dimensões curriculares para alunos com essa característica. Organizou-se um banco de dados com 157 teses e dissertações, as quais foram submetidas à categorização, análise estatística e temática. Os resultados indicam restrita produção acadêmica pelos programas de mestrado e doutorado do país. Conclui-se que há necessidade de pesquisas que amparem e propiciem estratégias pedagógicas para permitir ao aluno com autismo apropriar-se dos conteúdos curriculares da educação formal.
Palavras-chave: Estado da Arte; Educação; Autismo; Currículo.

ABSTRACT
Knowledge mediation is one of the Education duties, regardless of students' physical and mental attributes. Given that the curriculum can be configured as a pedagogical barrier for formal schooling for individuals with autism, this study aimed to map the national academic production, available on BTD-CAPES, regarding the process of formal schooling and curricular dimensions for students with this characteristic. We organized a database with 157 theses and dissertations, which were submitted to categorizationthematic and statistical analysis. The results indicate limited academic production by master's degree and doctorate program in the country. We concluded that there is need for research that support and encourage pedagogical strategies to enable the student with autism appropriate itself of curricular contents of formal education.
Keywords: State of the art. Education. Autism. Curriculum.

Fonte:

Cartilha - Autismo e Realidade

autismo.institutopensi.org.br

Capítulo II
Estratégias Acadêmicas


O professor é a pessoa mais importante no processo de aprendizagem do aluno. Como educadores devemos nos conscientizar disso e procurar obter uma melhor compreensão de como o aprendizado efetivamente ocorre. No sentido de traçarmos uma linha de ação efetiva, vamos combinar alguns pontos que possam facilitar nossa comunicação.

Em primeiro lugar, vamos definir que o comportamento é tudo o que as pessoas fazem, isto é, comer, correr, escrever, falar, morder, desenhar, dormir, cantar, bater, se machucar, enfim tudo que a gente vê e também o que a gente não vê como, pensar, contar, sentir, compreender; nesses casos, chamamos de comportamentos encobertos. O comportamento deve ser entendido como produto da tríplice contingência, ou seja, ele é mantido e modelado pelas consequências que produz.

O Autismo & Realidade Cartilha Autismo e Educação 25 indivíduo se comporta, esse comportamento produz consequências e a depender das consequências produzidas o comportamento poderá ou não ocorrer no futuro. O evento antecedente é a situação que sinaliza para o indivíduo que se ele se comportar de determinada maneira produzirá uma consequência específica.
Para ensinar, manter ou modificar comportamentos precisamos olhar para as consequências que eles produzem no ambiente. Isso é muito importante porque todo comportamento é controlado pelas consequências que produz. Autismo & Realidade Cartilha Autismo e Educação 26 Chamaremos essas consequências de reforçadores.

Os reforçadores têm duas características que os definem: - Em primeiro lugar, o reforçador deve seguir imediatamente a ação, isto é, ele ocorre logo depois que o comportamento é emitido. - Em 2º lugar, o reforçador tem o efeito de fazer com que essa ação ocorra com maior frequência. Precisamos insistir um pouco nesse ponto. Muitas vezes, pais e professores dão atenção a seus filhos e alunos apenas quando eles estão causando problemas. Sua atenção reforça o comportamento errado e, reforçando comportamentos errados, podemos criar crianças-problema, deixando nossa vida mais difícil. Temos que pensar também que os reforçadores não são pré-definidos.

Nós temos que descobri-los! Até hoje nenhum pai ou professor descobriu um reforçador que funcione para todos os filhos ou alunos. No entanto, nossa definição de reforçador com duas partes (acontecem logo após a ação e aumentam a frequência da ação) permite-nos identificar reforçadores independentes de qualquer outra consideração. Simplesmente, observamos se as consequências particulares identificadas aumentam a probabilidade futura das ações que as precedem. O que explicaria as birras frequentes de uma criança?

Primeiro devemos perguntar: O que acontece imediatamente Autismo & Realidade Cartilha Autismo e Educação 27 depois da birra? Ao observarmos situações desse tipo podemos descobrir que as birras frequentemente se encerram quando: O brinquedo anteriormente retirado é devolvido para a criança; Quando a criança recebe permissão para fazer o que havia sido proibido; Simplesmente quando se obtém a atenção do pai ou do professor. Podemos nos perguntar se o brinquedo, a retirada da proibição ou a atenção são reforçadores? São responsáveis pela continuidade do comportamento da birra?

Uma maneira de descobrir é, por exemplo, dar essa mesma atenção depois que a criança fizer outra coisa que não seja a birra e observarmos se essa outra atividade fica mais frequente. Suponha que déssemos o brinquedo ou a permissão ou ainda simplesmente a atenção quando a criança estivesse brincando com seus amiguinhos. Um comportamento aceitável então substituiria a birra? Se a resposta for sim, teríamos identificado um reforçador importante.

Os pais sabem alguma coisa que agrada ou desagrada seus filhos. Esse tipo de informação é útil para montarmos os nossos programas. Autismo & Realidade Cartilha Autismo e Educação 28 Existem basicamente três tipos de consequências que controlam os comportamentos: Reforçamento Positivo, Reforçamento Negativo e Punição. No Reforçamento Positivo o comportamento é seguido pelo aparecimento de algo novo, que não estava lá antes do ato. Algo que foi acrescentado. O acréscimo de algo torna mais provável a ocorrência da ação que o produziu futuramente.

O professor pergunta para a classe quem respondeu à pergunta de lição de casa. Alguns poucos alunos levantam a mão. O professor dá a palavra a Luciana que lê em voz alta a sua resposta. O professor agradece, fala para a turma que Luciana respondeu corretamente, que seu texto estava muito bem elaborado e que serviria de modelo para os demais alunos. Notamos que, a partir de então, sempre que o professor fazia uma pergunta para a turma ou pedia para que alguém contasse o que havia feito em casa, Luciana levantava sua mão oferecendose como voluntária.

Para ler a Cartilha completa acesse:
Fonte:http://autismo.institutopensi.org.br/wp-content/uploads/manuais/Cartilha-AR-Out-2013.pdf

Inclusão - passo a passo

Autismo e Inclusão

Fechando a sequência de 3 artigos sobre inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo, este artigo visa apresentar o passo a passo da inclusão, ou seja, a prática do analista do comportamento que visa incluir a criança com autismo em uma sala de ensino regular.
O primeiro passo do processo de inclusão consiste na avaliação, que tem como objetivo avaliar e medir comportamentos-alvos na escola, identificando os antecedentes e consequentes que evocam e mantêm cada um deles, o que é feito por meio da Análise Funcional (descrita no artigo “Autismo: Lidando com comportamentos socialmente inadequados” desta coluna). Nesta avaliação também visamos avaliar o desempenho da criança nas atividades rotineiras e acadêmicas.
A avaliação consiste na observação (ao vivo ou em vídeo) e registro de comportamentos em diferentes aulas, com diferentes professores, em diferentes contextos. Também é importante analisar os materiais acadêmicos do aluno de inclusão e o currículo pedagógico proposto pela escola. Durante este primeiro passo, o analista do comportamento também faz reuniões com a equipe da escola e os familiares para levantamento de queixas, exposição dos dados analisados e definição das modificações ambientais necessárias.
Como resultado da avaliação no ambiente escolar, o analista do comportamento deve ter definidos os comportamentos e habilidades que estão deficitários ou ausentes no repertório e, portanto, devem ser maximizados ou instalados; bem como os comportamentos e habilidades que estão em excesso e estão prejudicando o desenvolvimento e aproveitamento escolar e, portanto, devem ser minimizados ou extintos.
O segundo passo da inclusão deve começar antes mesmo de se pensar em inclusão ou, pelo menos, paralelamente ao processo de inserção da criança na escola. Este passo consiste na intervenção individualizada, ou seja, intervenção em um ambiente de ensino planejado, com controle total de variáveis ambientais, onde podemos apresentar um estímulo por vez e garantir o aprendizado de cada habilidade. Para esta intervenção o analista do comportamento treina um profissional ou estudante de psicologia, pedagogia ou áreas afins, para aplicar os procedimentos de ensino de habilidades pré-requisitos e novos repertórios e, também, procedimentos para minimização de comportamentos disruptivos.
Dentre os comportamentos a serem maximizados ou instalados no contexto individual estão: o comportamento de aluno, ou seja, sentar, esperar, manter contato visual, seguir comandos, etc.; a comunicação funcional vocal ou por pistas visuais; as habilidades sociais, como brincar, interagir, comunicar-se; as habilidades pré-acadêmicas, dentre elas estão contato visual, imitação, seguir instruções, discriminações visuais e auditivas, etc.; as habilidades acadêmicas como alfabetização, noções matemáticas, etc.; o repertório de brincar, isto é, o uso do brinquedo com a função correta, compartilhar a vez, brincar junto, etc.; e a independência nas atividades de vida diária (banho, vestir-se, alimentar-se, escovar os dentes, uso do banheiro, etc.). 
Os comportamentos a serem minimizados ou extintos na intervenção individualizada consistem nas estereotipias, ou seja, respostas repetitivas com função auto-estimulatória e os comportamentos de difícil manejo como: birras (choros, gritos, se jogar no chão, etc.); autolesão (machucar a si mesmo); e agressão (machucar outras pessoas). Os detalhes dos procedimentos utilizados pela análise do comportamento no ensino de novas habilidades e controle de comportamentos inadequados estão descritos em outros artigos desta coluna.
O terceiro passo da inclusão consiste em levar toda esta tecnologia comportamental para dentro dos muros da escola. Para isso, precisamos de um Acompanhante Terapêutico (AT), isto é, um profissional ou estudante da área da saúde (psicologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, enfermagem, etc.) ou educação (pedagogia), ou ainda um para profissional (cuidadores, pais, parentes, etc.). O objetivo da inserção de um AT para acompanhar a criança na escola é maximizar o número de horas de estimulação específica no ambiente natural, com valores mais acessíveis para a família, isto é, não precisa ter um analista do comportamento, com mestrado e doutorado, executando este serviço. Podemos ter outro profissional ou estudante, com menos formação, mas bem treinado e orientado pelo analista do comportamento.
O analista do comportamento indica a presença deste aplicador porque a criança com autismo apresenta dificuldades na generalização dos comportamentos aprendidos no contexto individualizado para o contexto natural (escola). Por isso, a criança precisa de um ensino mais individualizado dentro de sala de aula e nós não podemos exigir que o professor ou o auxiliar de classe exerçam estas funções, pois isto significaria a retirada destes profissionais da posição de referência para a turma.
O treinamento teórico do AT consiste na apresentação dos conceitos básicos da Análise do Comportamento aplicados à educação em supervisões individualizadas ou em workshops. O treinamento prático envolve a observação de um terapeuta experiente atuando na escola; atuação direta com a criança com supervisão ao vivo do terapeuta experiente; e auto avaliação, ou seja, o AT deve assistir a vídeos de sua própria atuação para identificar falhas e mudanças necessárias. Este treinamento é contínuo e mantido em consultorias sucessivas feitas pela equipe de analistas do comportamento que coordenam a intervenção. Paralelamente, a escola também deve fazer um treinamento específico com o AT, focado nas regras e princípios educacionais da escola, afinal o AT atuará neste espaço.
Uma das funções do acompanhante terapêutico é aplicar, na escola, procedimentos de ensino individualizado e de controle de comportamentos-problema orientados pelo analista do comportamento. O AT também deve estimular a interação da criança com seus pares, usando procedimentos planejados junto com o analista do comportamento. Quando necessário, o AT adapta os materiais acadêmicos e apresenta estes materiais adaptados em sala de aula.
Desta forma, o AT acompanha a criança em todos os contextos escolares, nas diferentes atividades, disciplinas e ambientes, garantindo a máxima participação dela nas atividades propostas utilizando, se necessário, técnicas de motivação e facilitação da tarefa orientadas pelo analista do comportamento. A função do AT não é criar e nem propor atividades, mas sim garantir que a criança participe das atividades criadas e propostas pelos professores com as adaptações necessárias.
A equipe de analistas do comportamento acompanha a evolução do caso por meio de registros e gráficos correspondentes a cada procedimento aplicado. Estes registros são feitos pelo AT com orientação do analista do comportamento. Também espera-se que o AT faça a troca de informações entre os profissionais da escola (professores, coordenadores, etc.) e os familiares e membros da equipe que atuam em outros contextos, garantindo a coesão da intervenção.
Com o desenvolvimento da criança e maior adaptação desta ao contexto escolar, o analista do comportamento pode decidir começar o processo de retirada do AT do ambiente escolar. Para isso, começamos afastando o AT dos momentos em que a criança já se comporta de forma correta e independente. Então, designamos outras tarefas para o AT executar durante o período de aula que não sejam diretamente com a criança (Ex: registros, análises, adaptação de material, etc.). Em um determinado momento realizamos um delineamento de intervenções específicas, isto é, orientamos que o AT atue somente nas situações em que a criança ainda não consegue se comportar de forma correta e independente. Em um estágio mais avançado, podemos inserir um AT camuflado na função de auxiliar de classe sem que a criança saiba que essa pessoa é sua AT, visando gerar mais autonomia.
O quarto passo do processo de inclusão escolar refere-se às adaptações necessárias para que a criança consiga acompanhar as aulas e atividades. Estas adaptações são preparadas antecipadamente e aplicadas pelo acompanhante terapêutico (AT), sob orientação do analista do comportamento. As adaptações consistem em alterações de contingências delineadas para a escola (relações específicas aluno-ambiente) em todos os contextos (diferentes espaços e disciplinas). Estas adaptações devem envolver tanto os eventos antecedentes (que evocam as respostas do aluno) quanto os eventos consequentes (que fortalecem e mantêm as respostas do aluno).
Dentre as modificações de eventos antecedentes necessárias para a inclusão de uma criança com autismo na escola regular, está a adaptação do material que será utilizado (livros, apostilas, provas, etc.). Neste material deve-se, por exemplo: reduzir enunciados, deixando somente 1 instrução em cada enunciado; usar frases objetivas e apenas com palavras-chave; manter menos exercícios por página; usar letras maiores e, preferência, letras de forma (bastão); deixar mais espaço para escrever, desenhar ou colar; substituir as questões dissertativas (que exigem só a escrita) por atividades para ligar, recortar, colar, pintar, circular, etc.; e incluir temas do interesse da criança e de situações de seu cotidiano em todas as atividades.
Fora esta preparação antecipada do material, durante as aulas o AT também deverá usar dicas verbais, visuais ou motoras para que o aluno realize as atividades propostas ou atividades adaptadas e obedeça aos comandos individuais e coletivos dos professores.
Outra modificação antecedente importante é a fragmentação de tarefas. Deve-se apresentar menos demandas por vez, quebrar as atividades longas em partes menores e intercalar a resposta a cada demanda com reforçadores e pequenos intervalos.
Algumas manipulações de variáveis antecedentes envolvem modificar o próprio ambiente físico de sala de aula, por exemplo, acomodar a criança próximo a um colega que possa dar apoio (este colega deve variar, para que não fique custoso demais para as crianças); alterar a disposição física da criança na sala de aula (sentar mais na frente para se concentrar melhor, ou sentar mais atrás se precisar sair de sala muitas vezes); alterar a estimulação de sala de aula acrescentando fotos, figuras e vídeos acompanhando o conteúdo das aulas expositivas; utilização de tecnologia para apresentação de conteúdos durantes as aulas expositivas e verbais, como, por exemplo, computador, quadro interativo, DVD, tablet, etc.; e usar horários, calendários e sequências de atividades visuais (Quadro de Rotina).
Na maior parte das vezes o próprio currículo escolar deve ser adaptado. Esta decisão é feita pela equipe de intervenção (analistas do comportamento) em pareceria com a coordenação pedagógica da escola. A depender do nível de dificuldade da criança pode-se optar por ensinar o mesmo currículo, mas em nível menos complexo, mais lentamente, com adaptações de material ou apenas com aplicação direta à rotina do indivíduo. Em casos de maior atraso cognitivo deve-se optar pelo ensino de um currículo diferente, totalmente adaptado às necessidades da criança.
Também faz parte do conjunto de adaptações antecedentes a antecipação de conteúdos acadêmicos. Para isso, a escola deve fornecer o planejamento curricular da turma e, então, os conteúdos, ou parte deles, são inseridos nos programas de ensino aplicados na intervenção individualizada. Assim, a criança adquire os pré-requisitos ou aprende totalmente o conteúdo antes de vê-lo em sala de aula. Para crianças com necessidades especiais de aprendizagem, o aprendizado em contexto individualizado é sempre mais fácil do que no contexto coletivo, afinal, no contexto individualizado é possível utilizar estratégias de estimulação antecedentes e consequentes mais eficientes. No contexto individualizado pode-se, ainda, detectar o formato ideal de apresentação de um determinado conteúdo acadêmico e, depois, reproduzi-lo em sala de aula.
Quanto às modificações dos eventos consequentes, é necessário usar esquemas de reforçamento especiais para fortalecer e manter as respostas adequadas do aluno já que, como já discutido nesta coluna, a criança com autismo pode não ficar sob controle das variáveis consequentes mais comuns ao contexto escolar (notas, elogios, gosto por aprender, etc.). Muitas vezes, orientamos que o AT monte, na sala de aula, uma caixa om diversas opções de possíveis reforçadores, ou seja, objetos e atividades do interesse da criança, de casa ou da escola, que poderão ser usados para consequenciar respostas corretas. Estes objetos devem ser renovados constantemente.
Vale lembrar que o analista do comportamento deve se preocupar sempre com a transferência gradual do reforçamento artificial para o natural. Para isso, brinquedos, vídeos, alimentos, etc. (reforçadores artificiais) devem vir sempre acompanhados de elogios (reforçadores sociais) e garantia de prazer e funcionalidade na atividade (reforçadores naturais). Assim, gradualmente, os elogios e o gostar de aprender passam a manter as respostas, permitindo a retirada gradual do reforçamento artificial.
O analista do comportamento deve planejar esquemas de reforçamento específicos para cada objetivo acadêmico. Por exemplo, com uma criança que está começando o processo de inclusão pode ser importante usar o reforçamento contínuo. Depois, com a criança mais adaptada ao contexto escolar, pode-se passar para um esquema de reforçamento intermitente e, com isso, possibilitar que reforçadores mais naturais detenham o controle sobre a resposta.
Uma das tarefas mais difíceis na parceria com as escolas consiste em impedir ou, pelo menos, minimizar o uso de punição após a ocorrência de comportamentos disruptivos. Afinal, os castigos, broncas, ameaças e retirada do acesso a situações prazerosas (Ex: não ir para o recreio) são práticas comuns na maior parte das escolas. Porém, como já discutido no artigo “Autismo: Lidando com comportamentos socialmente inadequados” publicado nesta coluna, o controle coercitivo gera muitos efeitos colaterais indesejados que podem comprometer o aprendizado e o sucesso da inclusão escolar.
Também faz parte do trabalho do AT a intermediação de interações sociais. Para isso, o analista do comportamento treina o AT para manipular variáveis ambientais de modo a facilitar a interação da criança com os colegas. O AT pode, por exemplo, propor brincadeiras que a criança de inclusão conheça, goste e saiba brincar, facilitando sua inserção nos momentos lúdicos. Durante estas interações o AT deve bloquear estereotipias e redirecionar para comportamentos mais funcionais; dar as dicas necessárias para a comunicação da criança de inclusão com seus pares; e ajudar a criança a se manter na brincadeira e manipular brinquedos de forma adequada (e não estereotipada). Também é importante orientar os pares acerca de como interagir e se comunicar com a criança de inclusão, tornando eles próprios o que passamos a chamar de “mini-ATs”.
Finalmente, o quinto passo do processo de inclusão escolar consiste na supervisão e coordenação da equipe (profissionais e familiares). O analista do comportamento deve garantir coerência e sistematicidade de procedimentos mantendo reuniões frequentes com todos os membros da equipe de intervenção e familiares mais próximos. Nestas reuniões deve-se promover a troca de informações entre os membros da equipe, para que todos conheçam a atuação dos demais, bem como o desempenho da criança em cada contexto de intervenção. Nestas reuniões também são estabelecidas novas metas de intervenção, com base nos problemas de comportamento e aprendizado que a equipe for relatando. Então, com as metas estabelecidas, o analista do comportamento explica e treina novos procedimentos para ensino de novas habilidades ou controle do comportamentos inadequados.
Vale ressaltar que todos os passos do processo de inclusão aqui descritos contemplam a concepção de Educação da Análise do Comportamento já descrita nos dois artigos anteriores a este. Assim, qualquer proposta de um profissional analista do comportamento precisa ser composta por esses passos fundamentais.
Referências Bibliográficas:
Bagaiolo, L. & Guilhardi, C. (2002). Autismo e preocupações educacionais: Um estudo de caso a partir de uma perspectiva comportamental compromissada com a Análise Experimental do Comportamento. In: Guilhardi, H. J., Madi, M.B. P., Queiroz, P. P., Scoz, M. C. (Org.) Sobre Comportamento e Cognição. 1ª Ed. Santo André: ESETEC, v. 10, p. 67-82.

Fonte:

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Regressão no Desenvolvimento

A regressão do desenvolvimento no autismo: pesquisa e questões conceituais

Carolina Lampreia

Resumo


O tema da regressão do desenvolvimento no autismo tem ganhado importância e um número crescente de pesquisas têm sido realizadas nos últimos anos. É um tema relevante por indicar que não há uma forma única de surgimento do autismo. Contudo, o próprio fenômeno e o próprio conceito de regressão têm sido alvo de debates: não há consenso sobre a existência da regressão, assim como não há consenso sobre sua definição. O objetivo do presente artigo foi fazer uma revisão da literatura sobre pesquisas na área e introduzir algumas questões conceituais sobre sua existência e sua definição.


Palavras-chave


Autismo; Regressão; Estagnação.

Texto completo:

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DOI: http://dx.doi.org/10.5902/1984686X10071 

Fonte:https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/10071

Desenvolvimento da criança com Autismo

Aspectos Inerentes ao Desenvolvimento da Criança com Autismo
Autora: Sílvia Ester Orrú
A sociedade costuma padronizar as pessoas como "normais", quando exercem uma profissão, são casados e possuem filhos, mesmo que, preconceituosamente, sejam tidas e, não raramente evitadas, por parecerem "esquisitas" ou diferentes da maioria das pessoas conhecidas
Para se alcançar melhor compreensão sobre o autismo e as implicações contidas no quadro sindrômico, visando a educação da criança autista, é preciso ter conhecimento sobre o desenvolvimento normal da criança e suas funções desenvolvidas, para que haja distinção do que seja realmente um comportamento autista. Discernindo suas características principais, seus limites, seu potencial capacitador, suas necessidades e prioridades que precisam ser estudadas e trabalhadas, com a finalidade de se proporcionar à pessoa com autismo, maior estabilização emocional possível e nível de desenvolvimento global mais próximo da normalidade.
Pessoas com autismo apresentam, desde cedo, um distúrbio severo do desenvolvimento, principalmente, relacionado a sua comunicação e interação social. Mas, por outro lado, podem apresentar incríveis habilidades motoras, musicais, de memória e outras, que muitas vezes, não estão de acordo com sua idade cronológica, apresentando-se bem mais adiantada do que deveriam estar.
Alguns autores têm se dedicado ao estudo do autismo desde a fase fetal, através das anamneses e entrevistas realizadas com mães de crianças autistas sobre seu período de gestação. O propósito deste trabalho é conhecer essa criança em circunstâncias mais concretas. Limitar-se-á a comentar seu processo de desenvolvimento a partir de seu nascimento.
De acordo com as escalas[1] de Shirley Apud Barros, (1991) Erickson (1976) e Piaget (1971), o desenvolvimento da criança ocorre de forma evolutiva, dentro de um determinado tempo, respeitando a individualidade de cada um, independente de raça, sexo ou grupo social ao qual pertença. Contudo, não é assim que se sucede com a criança com autismo. Seu desenvolvimento se dá de uma forma diferente e não padronizada.
Enquanto um bebê de dois a quatro meses de idade já possui capacidade para responder a estímulos internos e externos, tais como: chorar quando sente fome ou dor, manifestar um comportamento diferente quando não está confortado, reconhecer a voz de sua mãe e é capaz de reproduzir em si mesmo as expressões produzidas pelos adultos, um bebê autista, nem sempre reagirá da mesma forma.
Segundo o depoimento da mãe de W.F. (26 anos), um rapaz autista, quando bebê, poderia deixá-lo durante horas em seu berço, até mesmo, sem alimentá-lo, que reação alguma se percebia. Bebês autistas mostram-se em geral, muito passivos e indiferentes aos sinais sociais do meio em que vivem.
O desenvolvimento psicossocial do ser humano ocorre, naturalmente, desde a mais tenra idade, iniciando-se a partir do vínculo materno e produzindo através do contato diário com a mãe ou com aqueles que o cercam, experiências diversas que o levam a ter sensações de confiança, bem estar, amor ou sensações que sejam o inverso das citadas, que muito contribuirão para a formação da pessoa.
Pessoas com autismo, em geral, reagem de forma diferente. Falta-lhes a discriminação emocional, a empatia com o outro e a manifestação do desejo por algo. Percebe-se o desinteresse e falta de iniciativa desses bebês, diante de móbiles pendurados ou outros objetos colocados em seus berços. Normalmente, por volta dos quatro aos oito meses de idade, a criança já demonstra o desejo de alcançar o objeto, pegar e trazê-lo consigo, levando-o à boca ou jogando-o ao chão.
A linguagem apodera-se do homem, evoluindo-se dia após dia por meio da convivência e do diálogo que temos com outras pessoas, interagindo com elas desde pequenos. A partir do nascimento, a criança se expressa através de pequenos ruídos guturais, murmúrios, sorrisos, balbucios até dizer uma e depois, várias palavras no decorrer do desenvolvimento de sua linguagem.
Todavia, na maioria das vezes, observa-se retardo no desenvolvimento da linguagem de crianças com autismo ou regressão da capacidade de fala já adquirida, indo ao extremo do emudecimento (perda da fala) em certos casos, como é o caso de A.C., (4 anos) que passou naturalmente pelas fases da linguagem até completar dois anos de idade. Mas pouco tempo depois se emudeceu. Ao contrário do exemplo anterior, E.M. (9 anos), com autismo e síndrome de West, é uma criança que tem aos poucos, desenvolvido sua fala. Verbaliza várias palavras, canta diversas músicas, usa pequenas frases para se expressar e responde a perguntas simples, o que equivaleria ao desenvolvimento normal de uma criança com três anos de idade. Não coincidindo com ambos os casos citados, W.S. (6 anos) e R.T. (8 anos), nunca falaram, enquanto, E.C. (5 anos), apenas emite sons.
Crianças autistas que não apresentam outras síndromes ou lesões comprometedoras do desenvolvimento motor podem manifestar atrasos para começarem a andar, tal como aconteceu com W.F. (26 anos) que andou aos dois anos de idade, sem chegar a rastejar-se ou engatinhar. Porém, nota-se a necessidade de estimulá-los através de exercícios específicos realizados por fisioterapeutas e/ou outros estímulos globais que o motivem a andar, dependendo do caso. W.S. (6 anos) andou, aproximadamente, com quatro anos. Sua professora, diariamente, o colocava em pé e manipulava seus passos. Após firmar-se sozinho, davam passeios pela escola, desde que a professora estivesse segurando suas mãos. Atualmente, a criança anda sem auxílio, mas não se levanta do lugar em que estiver sentada sem que seja ajudada por alguém.
O atraso ou a falta permanente do controle esfincteriano pode ser observado em pessoas com autismo, como também, a não percepção e identificação com o progenitor de seu próprio sexo. Esta fase é merecedora de consideração para a formação da pessoa. A tendência ao isolamento claramente notada, pois tanto as pessoas que convivem com esta criança como as que lhe são desconhecidas, são por ela pouco distinguidas. A decepção dos pais diante do comportamento de seus filhos torna-os, muitas vezes, descrentes e frios com relação à possibilidade ou não de um dia conseguirem relacionar-se com eles.
É comum que crianças autistas tenham apego inadequado a determinados objetos e rotinas. Por esta razão, é preciso que se realize um trabalho estruturado e organizado com a mesma, para que se tire proveito do uso desse apego rotineiro. A fixação em realizar determinadas atividades, repetir permanentemente certas ações, preferir usar as mesmas roupas etc., são problemas de comportamento característicos dessas crianças que devem ser trabalhadas em seu dia a dia pelos pais e professores. Tem o intuito de modificar tais comportamentos por outros úteis e adequados ao momento, tendo em vista o desenvolvimento de sua autonomia, iniciativa e compreensão daquilo que está fazendo ou do que precisa fazer.
Distúrbios na alimentação, ausência de mastigação e paladar bizarro são habituais no autista. R.T (8 anos), rejeitava qualquer coisa que lhe oferecesse durante o almoço que não fosse pão, bolacha ou cenoura. Desde a segunda metade do ano de 1999, passou a aceitar alguns alimentos, como macarrão e salsicha. Possui paladar bizarro, comendo terra ou sabonete. W.S (6 anos) não tem preferências em sua alimentação, mas ingere sem nenhuma mastigação. E.M. (9 anos), não apresenta nenhum desses fatos. E.C. (5 anos), também possui paladar bizarro, lambendo sabonetes.
O processo de definição de identidade, normalmente iniciado a partir dos doze anos de idade, fase da puberdade e adolescência, fortalecido por meio dos aspectos observados nos pais, professores, amigos etc., tanto para serem preservados como abandonados em sua personalidade, concorre para o descobrimento e desenvolvimento da própria identidade e o enquadramento a um grupo social. É a fase onde o crescimento físico, variável de pessoa para pessoa, se dá com vistas para a definição adulta, considerando os fatores genéticos e os elementos do meio. Acontece, também, o amadurecimento sexual para a reprodução de sua própria espécie. Nesta fase, o isolamento social, a hostilidade e os problemas de disciplina inclinam-se a acontecer.
A puberdade, como um fenômeno essencialmente biológico, exerce transformações no organismo em sua estrutura e função. Devido o rápido crescimento e as alterações sofridas pelo organismo, surgem sintomas de cansaço e fadiga, com possíveis perturbações gástricas e falta de apetite.
As meninas, em especial, durante os primeiros períodos menstruais, estão sujeitas a dores de cabeça, dores nas costas, câimbras, dores abdominais seguidas de vômito, desmaios, irritações da pele, inchaços, tendendo a ficarem irritadas. Com o regular da menstruação, tais sintomas estão propensos a desaparecer, apesar de continuarem a existir, representando um período de sensibilidade física e emocional para algumas pessoas.
Para a pessoa com autismo, a puberdade e a adolescência também podem representar um período difícil de transição. Grandin (1992) comenta esta época como a pior fase de seu comportamento, a partir de sua primeira menstruação. Kyrkou (1995), em seu estudo sobre os sintomas associados com o ciclo menstrual em mulheres com autismo, explica que pessoas com autismo reagem de modo diferente ao período menstrual, tanto na fase da adolescência como posteriormente, a cada ciclo.
Os ataques de pânico, inquietude, cólicas causam uma situação mais propensa para hipersensibilidade do que ansiedade, ocorrendo de forma mais intensa em pessoas com a síndrome que possuam severo comprometimento de linguagem, pois não conseguem expressar o que estão sentindo ou o local a onde se concentra a dor. O uso de medicamentos pode ser útil para o alívio das dores e para o relaxamento físico e psicológico.
A criança autista, tal como qualquer outra criança, atravessa diversas etapas em seu desenvolvimento e conseqüentemente, torna-se um jovem-adulto. Pouco se fala sobre o jovem e o adulto com autismo, mas sem dúvida nenhuma, eles também chegam a essa idade e muitas vezes, chegam esperando por algo, assim como a maioria daqueles que têm a mesma idade.
Grandin relata que sentia-se isolada e só, que não sabia se iria encontrar alguém para amar. Em razão da complexidade que sentia ser os relacionamentos pessoais, optou por ficar sozinha e dedicar-se a estudos sobre autismo e sobre animais.
A sociedade costuma padronizar as pessoas como "normais", quando exercem uma profissão, são casados e possuem filhos, mesmo que, preconceituosamente, sejam tidas e, não raramente evitadas, por parecerem "esquisitas" ou diferentes da maioria das pessoas conhecidas. Casos assim podem ser típicos de autismo, porém, não tão severos como os que estão sendo citados. Pessoas com rotinas exageradamente estabelecidas, chamadas de alienadas pelas outras com quem convive, confusas no falar, complicadas para relacionar-se e com tendências ao isolamento, podem ser pessoas com características do autismo.
É possível e não incomum, encontrarem-se capacidades especiais que se contrastam com os déficits de comportamento existentes na pessoa com autismo em outras áreas. Temple Grandin era e é espetacular na área de zootecnia e construção de certas aparelhagens utilizadas com animais. David Hefgott tinha um talento único para o piano, Einstein, possuidor de diversos traços autísticos, até os três anos não havia articulado palavra alguma e só passou a se expressar de modo fluente aos dez anos, fora um gênio da ciência. W.F. (26 anos) com seis anos de idade já lia e escrevia de tudo, interessando-se por enciclopédias que mostrassem o corpo humano, hoje, está no último ano medicina, especializando-se em neurocirurgia. R.F (12 anos), com síndrome de Asperger, possui uma habilidade fantástica para memorizar números de telefone, datas de aniversário, cálculos de calendários, nomes e cores das bandeiras mundiais.
No filme: "Rain Man", com Dustin Hoffman, é mostrada a contagem de cartas e palitos de fósforos por um autista de alto-funcionamento, fato este, verídico em autistas que mantêm sua capacidade visual aguçada.
Habilidades especiais como estas, podem surgir repentinamente, desconhecendo-se sua origem. Elas devem ser canalizadas da melhor maneira possível, com o fim de se aproveitar o potencial nelas contido para o enriquecimento psico-emocional da pessoa com autismo, aumentando as possibilidades de uma sociabilização de melhor qualidade, de modo que tal habilidade lhe seja prazerosa e funcional em sua vida.
O autismo é umas das síndromes mais severas, comprometedoras e incapacitantes, no que diz respeito ao desenvolvimento global da criança. Não é raro trazer consigo outras patologias e condições clínicas associadas [2]. Por não ser diagnostica através de exames laboratorias, dificulta o processo de seu reconhecimento, retardando seu diagnóstico e angustiando os pais da criança.
Para que se realize um diagnóstico seguro desta síndrome, é preciso um vasto protocolo que atravessa desde os dados de uma anamnese, investigação genética até longas observações comportamentais da criança. Para fins de um diagnóstico mais preciso, têm-se utilizado os critérios do CID 10, DSM IV e escala CARS para autismo, além da observação do comportamento, já que a mesma é definida atualmente como uma "síndrome comportamental com etiologias múltiplas e curso de um distúrbio de desenvolvimento" de acordo com Gillberg (1990). Até 1989, dizia-se estatisticamente que, a síndrome acometia crianças com idade inferior a três anos, com predominância de quatro crianças a cada dez mil nascidas. Manifestava-se majoritariamente em indivíduos do sexo masculino, sendo a cada quatro casos confirmados, três do sexo masculino e um caso para o feminino.
Segundo Gaspar (1998), neuropediatra, o autismo tem sido notório em vinte crianças a cada dez mil nascidos, número que vem crescendo nos últimos anos, em razão de maiores estudos e divulgações sobre a síndrome que atinge indivíduos de todos os países do mundo, não se restringindo a raça, etnia ou grupo social.
De acordo com a ASA - Autism Society of América, (1999) "o autismo é um distúrbio de desenvolvimento, permanente e severamente incapacitante". No Brasil, devem existir, estatisticamente, cerca de sessenta e cinco mil a cento e noventa e cinco mil autistas, baseado na proporção internacional, já que nenhum censo semelhante foi realizado.
ESCALAS [1] DE SHIRLEY, ERICKSON E PIAGET
EVOLUÇÃO DOS MOVIMENTOS DO BEBÊ DE 0 A 18 MESES de M.M. SHIRLEY
DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL de ERIC ERICKSON
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM de PIAGET
IDADE
MOVIMENTOS
IDADE
ESTÁGIOS
IDADE
LINGUAGEM
0 a 1 ano e meio
Raros movimentos de reflexos. Os punhos permanecem fechados.
0 a 1 ano e meio
Confiança x Desconfiança
4 semanas
Pequenos ruídos guturais. Atende ao som de uma campainha.
Cerca de 2 meses
As mãos batem no ar, as pernas se agitam, os punhos permanecem sempre fechados.
1 e meio a 3 anos
Autonomia x Vergonha
16 semanas
Murmúrios. Ri. Vocalização social.
De 4 a 6 meses
As mãos se estendem para o objeto, abrem-se e chegam a segurá-lo por um movimento.
3 a 6 anos
Iniciativa x Culpa
28 semanas
Balbucia. Vocaliza e escuta suas próprias vocalizações.
De 7 a 8 meses
As mãos pegam o objeto e o levam à boca ou o jogam ao chão. O bebê já rasteja.
7 a 12 anos
Domínio x Inferioridade
40 semanas
Diz uma palavra. Atende a seu nome.
De 8 a 10 meses
A criança mantém-se sentada, engatinha e, mais tarde, põe-se de pé dentro do cercado.
12 a 18 anos
Identidade x Confusão de papéis
12 meses
Diz duas ou mais palavras.
De 10 a 12 meses
A criança anda dentro do cercado, apoiando-se nas grades.
18 a 30 anos
Intimidade x Isolamento
18 meses
Jargão. Nomeia desenhos.
De 12 a 15 ou 18 meses
A criança começa a andar.
30 a 60 anos
Generatividade x Auto-absorção
2 anos
Usa frases. Compreende ordens simples.
60 anos
Integridade do ego x Desesperança
3 anos
Usa orações. Responde a perguntas simples.
4 anos
Usa conjunções e compreende preposições.
5 anos
Fala sem articulação infantil. Pergunta: "Por que?"
OUTRAS PATOLOGIAS E INFECÇÕES ASSOCIADAS AO AUTISMO [2]
Acidose Láctica
Síndrome de Coffin-Lowry
Albinismo Oculocutâneo
Síndrome de Cornélia de Lange
Alterações das Purinas
Síndrome de Down
Amaurose de Leber
Síndrome de Ehlers-Danlos tipo II
Citomegalovírus (pré-natal)
Sífilis (pré-natal)
Deficiências Auditivas
Síndrome de Goldenhar
Desordem Marfan-Like
Síndrome de Sotos
Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne
Síndrome Fetal Alcoólica
Doença de von Recklinghausen
Síndrome de Hurler
Epilepsia
Síndrome de Joubert
Esclerose Tuberosa
Síndrome de Klinefelter
Fenilcetonúria Não Tratada
Síndrome de Laurence-Moon-Biedl
Herpes Simples (pós-natal)
Rubéola (pré-natal)
Hidrocefalia
Síndrome de Martin-Bell
Hipomelanose de Ito
Síndrome de Noonan
Histidinemia
Síndrome de Rett
Neurofibromatose
Síndrome de Turner
Problemas Pré e Perinatais
Síndrome do X-Frágil
RDNPM
Síndrome de Williams
Retardo Mental
Síndrome de West
Seqüência de Moebius
Trissomia 17 (Mosaico)
Síndrome de Angelman
Anormalidades Orgânicas
Síndrome de Asperger
Outras Cromossomopatias
Síndrome de Bardet-Biedl
Caxumba (pré-natal)
Toxoplasmose (pré-natal)
Varicela (pré-natal)
Referências Bibliográficas
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Sílvia Ester Orrú - Mestre em Educação pela PUC-Campinas. Docente do curso de Pedagogia da Fundação de Ensino Octávio Bastos
Publicado em 13 de abril de 2004