AUTISMO COMO TRANSTORNO DA MEMÓRIA PRAGMÁTICA: TESES COGNITIVISTAS E FENOMENOLÓGICAS À LUZ DA FILOSOFIA DE HENRI BERGSON
Por Rossano Cabral de Lima
Resumo
O autismo é um transtorno psiquiátrico de instalação precoce descrito pela primeira vez por Leo Kanner, em 1943. Por cerca de duas décadas, a concepção psicanalítica do quadro foi dominante na literatura médico-psicológica internacional. A partir dos anos 1960 e 1970, entretanto, as teses de viés cognitivo e cerebral começam a ganhar destaque, até se tornarem hegemônicas com o advento dos anos 1980. Este estudo tem como objetivo inicial mostrar como se deu esse deslocamento interno na conceituação sobre a natureza do autismo, no período situado entre 1943 e 1983, por meio de pesquisa bibliográfica em fontes primárias em língua inglesa. Num segundo momento, o trabalho descreve as principais teorias cognitivas sobre o tema, com foco na teoria da mente, apresentando as críticas feitas ao cognitivismo por autores do campo da fenomenologia, assim como as hipóteses fenomenológicas a respeito do autismo. Por fim, tomando como referencial teórico a filosofia de Henri Bergson, o autismo é descrito como transtorno da memória pragmática, ou seja, como um prejuízo precoce na ligação entre a memória e a ação corporal. Sem a âncora pragmática, não há a possibilidade do uso das marcas das experiências passadas para esclarecer a situação atual, resultando daí os prejuízos autistas na criatividade, na construção da identidade pessoal e na intersubjetividade. Esta tese contribui para a ampliação das pesquisas sobre o autismo, servindo de alternativa à visão cognitivista modular e computacional e permitindo a valorização do papel do corpo e do cérebro sem recair no reducionismo fisicalista
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