segunda-feira, 30 de julho de 2018

Eugênio Cunha - Tecnologia

Documentário mostra limites da tecnologia na sala de aula


usa digital, salas de cinema, tablets e salas 3D. Com investimento em tecnologia, escolas acreditam estar se modernizando, mas não acompanham a maior mudança provocada pela revolução digital: as novas formas de pensar e educar. "Por conta das tecnologias digitais, o aluno é levado a pensar muito mais do que o aluno antigo, que precisava decorar o conteúdo. Ele cria em cima do conteúdo?, explica o professor e mestre em tecnologia educacional Eugênio Cunha.

Eugênio Cunha - Inclusão

Questão de INCLUSÃO

Questão de INCLUSÃO
Um ideal de educação inclusiva traz em seu cerne o direito de todos à educação, independentemente das difi culdades do aprendente







Autismo - Teoria Piagetiana


Resumo: A presente pesquisa é qualitativa, de caráter exploratório, que busca investigar o desenvolvimento de alunos com Transtorno do Espectro Autista a partir da teoria piagetiana e das pesquisas empíricas sobre o autismo. A compreensão e o estabelecimento de relações entre a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget e o desenvolvimento autista pode permitir o entendimento de possibilidades de aprendizagem na perspectiva educacional. Partindo da premissa de que a manifestação do autismo é heterogênea, foi realizado um estudo empírico em escola especial de atendimento a indivíduos com Transtorno do Espectro Autista. O método clínico piagetiano norteou a coleta e análise de dados. Primeiramente foi realizado um grupo focal com professoras experientes para a percepção dos aspectos que elas consideram fundamentais no desenvolvimento e aprendizagem dos educandos autistas. Após essa percepção, foi feita a seleção de dois autistas, um com autismo grave e outro com autismo moderado (definido pelo CARS), para acompanhamento sistemático em ambiente escolar. Como fontes de informação desses participantes, foram realizadas entrevistas a partir do método clínico com suas mães, professoras e uma atendente, bem como diário de observação de campo. Os dados coletados evidenciam como aspecto fundamental a socialização para avanços no desenvolvimento e na aprendizagem de indivíduos com autismo, principalmente na interação entre professor-aluno, sendo sempre permeada pela afetividade. Quanto aos alunos acompanhados, ambos demonstram características fundamentais na perspectiva do processo de desenvolvimento e aprendizagem dentro de uma visão integrada entre aspectos afetivos, cognitivos e sociais, própria da perspectiva piagetiana. Ambos apresentam o aspecto visual como mais evidente na exploração do mundo e, em consequência, a imitação é um determinante na sua aprendizagem, seja ela de cunho acadêmico, lúdico ou social. Ambos demonstram aprendizagem social, dentre as quais, algumas imitações de comportamentos. Quanto à construção do conhecimento, ambos demonstram a construção de um pensamento representativo, um voltado para a ludicidade, e o outro voltado para a construção de um conhecimento acadêmico. Essas características apresentam estreita relação com a teoria piagetiana por compreender que o pensamento representativo se dá pela imitação, jogo simbólico e representação cognitiva. Ao relacionar esses aspectos com o observado compreende-se ser esse um caminho que pode trazer potencialidades significativas de desenvolvimento e aprendizagem de indivíduos com transtorno do espectro autista. Além disso, os interesses que autistas apresentam para determinados objetos devem ser considerados como a energia necessária ao desenvolvimento, que é de cunho afetivo. Assim, compreende-se que há evidência de aproximações teóricas possíveis quanto à integração dos aspectos sociais, cognitivos e afetivos evidenciados pelas pesquisas sobre o autismo e a teoria piagetiana. A compreensão desses aspectos de uma maneira integrada e em desenvolvimento contínuo permite avançar para um olhar produtivo no atendimento a esses alunos. Palavras-chave: Autismo. Transtorno do Espectro Autista. Desenvolvimento. Aprendizagem. Piaget. TEA.

Alunos autistas

 Alunos autistas: 
análise das possibilidades de interação social no contexto pedagógico

 Alessandra Dilair Formagio Martins
Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio- Itu – SP - Brasil

Maria Inês Bacellar Monteiro
Universidade Metodista de Piracicaba – Piracicaba – SP - Brasil

Resumo O estudo tem como tema os processos de significação vividos por sujeitos autistas nas interações sociais que estabelecem com os outros de seu grupo social, problematizando as interações sociais que envolvem a criança autista no contexto pedagógico de uma instituição voltada ao Transtorno do Espectro do Autismo. Trata-se de uma pesquisa empírica realizada por meio de vídeo-gravação da relação desses sujeitos com o professor e seus pares, que consistiu na observação de 20 episódios de atividades que implicam situações de aprendizado de um grupo de 4 crianças autistas com idades entre 6 e 10 anos, de uma sala de aula caracterizada como de Ensino Fundamental. As discussões e elaboração do material tiveram como base a análise microgenética, constatando possibilidades de desenvolvimento e aprendizado dos alunos autistas nas relações estabelecidas nesse contexto, aspecto que remete a discussão sobre as práticas utilizadas no tratamento desse transtorno que não favorecem as interações sociais.

Palavras-chave: Autismo; interação social; educação especial.

Fonte:
http://www.scielo.br/pdf/pee/v21n2/2175-3539-pee-21-02-00215.pdf

Autismo e Aprendizagem

O ALUNO AUTISTA E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM


“É no processo de procurar uma maneira diferente de nos relacionarmos com nossas crianças, nossa família ou com pessoas com autismo que aprendemos a suportar o que existe sob a superfície e encontramos nesse diagnóstico tão difícil, mas que de fato faz parte da nossa vida, algo que nos empurra para uma nova vida”.
Deborah Barret, mãe de Anthony, 11 anos, autista.
“Todo tipo de apoio deve reconhecer que embora o autismo seja uma parte muito importante do que eu sou, não é tudo o que eu sou. Pais e profissionais deveriam reconhecer que não somente nós podemos aprender com eles, mas eles também podem aprender conosco”.
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William Recai, voluntário no National Autistic Society da Escócia, diagnosticado aos 25 anos.

1. Histórico do Conceito de Autismo
Qualquer abordagem sobre o tópico autismo infantil deve referenciar os pioneiros Leo Kanner e Hans Asperger que, separadamente, publicaram os primeiros trabalhos sobre esse transtorno. Kanner, em 1943, descreveu a condição de onze crianças consideradas especiais, com características diferentes de um conceito que estava muito em voga na época, a esquizofrenia infantil. A publicação de Kanner, entitulada Autistic disturbance of affective contact, na revista “Nervous Child” e a tese de doutorado de Asperger em 1944 continham descrições detalhadas de casos de autismo, e também ofereciam os primeiros esforços para explicar teoricamente tal transtorno. Ambos acreditavam que desde o nascimento havia um transtorno básico que originava problemas altamente característicos. Parece uma coincidência notável o fato de que ambos escolheram a palavra ‘autista’ para caracterizar a natureza do transtorno em questão. Na verdade, não é uma coincidência, uma vez que esse termo já tinha sido apresentado pelo eminente psiquiatra Eugen Bleuler em 1911. Originalmente, esse termo se referia a um transtorno básico em esquizofrenia (outro termo lançado por Bleuler), mais especificamente, o estreitamento do relacionamento com as pessoas e com o mundo exterior, um estreitamento tão extremo que parecia excluir tudo, exceto a própria pessoa. Este estreitamento poderia ser descrito como um afastamento da estrutura de vida social para a individualidade. Daí as palavras ‘autista’ e ‘autismo’, originárias da palavra gregaautos, que significa ‘próprio’. Atualmente, elas são aplicadas quase que exclusivamente ao transtorno de desenvolvimento chamado de autismo. Tanto Kanner, trabalhando em Baltimore, quanto Asperger, trabalhando em Viena, notaram casos de crianças diferentes que tinham em comum algumas características fascinantes. Acima de tudo, as crianças pareciam incapazes de desenvolver um relacionamento afetivo normal com as pessoas.
Em contraste ao conceito de esquizofrenia de Bleuler, o transtorno autista parecia existir desde o começo da vida do paciente. O artigo de Kanner tornou-se o mais citado em toda a literatura sobre autismo, enquanto que o artigo de Asperger, escrito em alemão e publicado durante a Segunda Guerra Mundial, foi largamente ignorado. Surgiu uma crença de que Asperger havia descrito um tipo diferente de criança, que não devia ser confundido com o descrito por Kanner. A definição de autismo feita por Asperger, ou como ele a chamava, “psicopatologia autista”, é bem mais ampla que a de Kanner. Asperger incluía casos que mostravam um dano orgânico severo e aqueles que transitavam para a normalidade. Atualmente, o termo Síndrome de Asperger tende a ser reservado para as raras crianças autistas apenas ligeiramente afetadas (autismo de alto desempenho), que dão mostras mais claras de inteligência e altamente verbais. Já a síndrome de Kanner é freqüentemente usada para indicar a criança com uma constelação de aspectos clássicos ou ‘nucleares’, assemelhando-se, em detalhes surpreendentes, às características que Kanner identificou em sua primeira descrição inspirada.
Kanner viria a reconhecer, mais tarde, que o termo autismo não deveria se referir a um afastamento da realidade com predominância do mundo interior, como se dizia acontecer na esquizofrenia. Para Kanner – e esta pode ser considerada uma das melhores definições do conceito – não haveria no autismo um fechamento do indivíduo sobre si mesmo, mas um tipo particular e específico de contato do indivíduo com o mundo exterior.
Nos anos 1950 e 1960, o psicólogo Bruno Bettelheim afirmou que a causa do autismo seria a indiferença da mãe, que denominou de “mãe-geladeira'”. Nos anos 1970 essa teoria foi posta por terra e passou-se a pesquisar as causas do autismo. Ainda assim, autores como Rutter, afirmavam que o autista possuía uma incapacidade inata para estabelecer qualquer relação afetiva bem como para responder aos estímulos do meio.
Felizmente, essas teorias foram superadas e hoje acredita-se que o autismo esteja ligado a causas genéticas associadas a causas ambientais. Dentre as possíveis causas ambientais, a contaminação por mercúrio tem sido apontada por militantes da causa do autismo como forte candidata, assim como problemas na gestação.

2. Características
O autismo é definido como um transtorno invasivo do desenvolvimento, isto é, algo que faz parte da constituição do indivíduo e afeta sua evolução. Manifesta-se antes dos três anos de idade. O autista, em geral, apresenta comprometimentos em três importantes domínios do desenvolvimento humano: a comunicação, a sociabilização e a imaginação. A isto, denomina-se tríade.
1. Desvios qualitativos da comunicação
São assim chamados pela dificuldade em utilizar com sentido todos os aspectos da comunicação verbal e não verbal. Isto inclui gestos, expressões faciais, linguagem corporal, ritmo e modulação na linguagem verbal.
Portanto, dentro da grande variação possível na severidade do autismo, pode-se encontrar uma criança sem linguagem verbal e com dificuldades na comunicação por qualquer outra via – isto inclui ausência de uso de gestos ou um uso muito precário dos mesmos; ausência de expressão facial ou expressão facial incompreensível para os outros e assim por diante – como se pode, igualmente, encontrar crianças que apresentam linguagem verbal, porém esta é repetitiva e não comunicativa.
Muitas das crianças que apresentam linguagem verbal repetem simplesmente o que lhes foi dito. Este fenômeno é conhecido com ecolalia imediata. Outras crianças repetem frases ouvidas há horas, ou até mesmo dias antes (ecolalia tardia).
É comum que crianças com autismo e inteligência normal repitam frases ouvidas anteriormente e de forma perfeitamente adequada ao contexto, embora, geralmente nestes casos, o tom de voz soe estranho e pedante.
2. Desvios qualitativos na sociabilização
São o ponto crucial no autismo e o mais fácil de gerar falsas interpretações. Significam a dificuldade em relacionar-se com os outros, a incapacidade de compartilhar sentimentos, gostos e emoções e a dificuldade na discriminação entre diferentes pessoas.
Muitas vezes a criança que tem autismo aparenta ser muito afetiva, por aproximar-se das pessoas abraçando-as e mexendo, por exemplo, em seu cabelo ou mesmo beijando-as quando na verdade ela adota indiscriminadamente esta postura, sem diferenciar pessoas, lugares ou momentos. Segundo Mirenda, Donnellan & Yoder (1983), “os distúrbios na interação social dos autistas podem ser observados desde o início da vida. Com autistas típicos, o contato ‘olho a olho’ já se apresenta anormal antes do final do primeiro ano de vida”. Muitas crianças olham de canto de olho ou muito brevemente. Um grande número de crianças não demonstra postura antecipatória ao serem pegos pelos seus pais, podendo resistir ao toque ou ao abraço. Dificuldades em se moldar ao corpo dos pais, quando no colo, são observadas precocemente. Crianças que, posteriormente, receberam o diagnóstico de autismo, demonstravam falta de iniciativa, de curiosidade ou comportamento exploratório, quando bebês.
Freqüentemente, os pais de autistas descrevem seus bebês como “felizes quando deixados sozinhos”, “como se estivessem dentro de uma concha”, “sempre em seu próprio mundo”. Os autistas têm um estilo “instrumental” de se relacionar, utilizando-se dos pais para conseguirem o que desejam. Um exemplo de modo instrumental de relacionamento ocorre quando a criança autista pega a mão da mãe e a utiliza para abrir uma porta em vez de abri-la com sua própria mão.
3. Desvios qualitativos na imaginação
Caracterizam-se por rigidez e inflexibilidade e se estendem às várias áreas do pensamento, linguagem e comportamento da pessoa. Podem ser exemplificadas por comportamentos obsessivos e ritualísticos, compreensões literais da linguagem, falta de aceitação das mudanças e dificuldades em processos criativos.
Esta dificuldade pode ser percebida por uma forma de brincar desprovida de criatividade e pela exploração peculiar de objetos e brinquedos. Usualmente, crianças autistas demonstram sérios problemas na compreensão e utilização da mímica, gestualidade e fala. Desde o início, os jogos de “faz-de-conta” e imitação social, amplamente observados nas crianças com desenvolvimento normal, são falhos ou inexistentes. Uma criança que tem autismo pode passar horas a fio explorando a textura de um brinquedo, e costumam ser fascinadas por objetos ou elementos inusitados para uma criança, como zíperes ou cabelos. Em crianças que têm autismo e têm inteligência preservada, pode-se perceber a fixação em determinados assuntos, na maioria dos casos incomuns em crianças da mesma idade, como calendários ou animais pré-históricos, o que é confundido às vezes com nível de inteligência superior.
As mudanças de rotina, como de casa, dos móveis, ou até mesmo de percurso, costumam perturbar bastante algumas dessas crianças. Apesar dessa resistência, os autistas
mantêm rotinas e rituais próprios. É comum insistirem em determinados movimentos, como abanar as mãos e rodopiar (movimentos estereotipados). Algumas preferem brincadeiras de ordenamento, alinhando objetos, por exemplo. Podem apresentar preocupação exagerada com temas restritos, como horários fixos de determinadas atividades ou compromissos, sendo que se cogita que os movimentos estereotipados estejam muito ligados a esta última característica, pois costumam ocorrer em horários fixos do dia.

3. Espectro do Autismo
O autismo não é visto como um continuum que vai do grau leve ao severo. Existe uma grande associação entre autismo e retardo mental, desde o leve até o severo, sendo que se considera que a gravidade do retardo mental não está necessariamente associada à gravidade do autismo.
Segundo Goodman & Scott (1997), um terço dos autistas com retardo mental sofrem crises convulsivas, que começam a se manifestar dos 11 aos 14 anos. A hiperatividade é freqüente, mas pode desaparecer na adolescência e ser substituída pela inércia. A irritabilidade também é comum e costuma ser desencadeada pela dificuldade de expressão ou pela interferência nos rituais e rotinas próprias do indivíduo. O autista também pode desenvolver medos intensos que desencadeiem fobias.
Cerca de 10% dos autistas perdem habilidades de linguagem e intelectuais na adolescência. O declínio não é progressivo, mas a capacidade intelectual perdida geralmente não é recuperada. Na vida adulta, quase 10% dos autistas trabalham e são capazes de ter uma vida independente.
A palavra autismo atualmente pode ser associada a diversas síndromes. Os sintomas variam amplamente, o que explica por que atualmente refere-se ao autismo como um espectro de transtornos. Dentro deste espectro encontramos sempre a tríade de comprometimentos que confere uma característica comum a todos eles. Alguns são diagnosticados simplesmente como autismo, traços autísticos, etc, ou Síndrome de Asperger (considerado por muitos como o autismo de alto desempenho). Além destes, existem diversas síndromes identificáveis geneticamente ou que apresentam quadros diagnósticos característicos, que também estão englobadas no Espectro do Autismo.

Fonte:

Depois da Infância

Depois da infância. Autismo e Política

por Neus Carbonell e Iván Ruíz

Fórum Internacional sobre Autismo. 
Ocorrido no Sábado, 7 de abril de 2018. 
De 10h às 17h. Barcelona

A presença social do autismo coloca hoje um problema em diversos níveis: fala-se do autismo para referir-se quase que exclusivamente à infância; os signos que descrevem o difundido TEA já são tão amplos que se torna difícil definir suas fronteiras na infância, mas também depois dela; quanto maior é o debate sobre a melhor terapêutica, maior é a invisibilidade daqueles casos que não melhoram como estava previsto.

Não existe, então, nem um discurso, nem um método, que se ocupe, nos dias de hoje, dos adolescentes e dos adultos com autismo. Tampouco esses métodos reeducativos que vociferam para a infância suas “evidências científicas” se ocuparam de realizar um acompanhamento do destino das crianças tratadas com suas técnicas, que corroborariam, assim, as cifras de êxito que proclamam.

O real da puberdade irrompe, então, para por à prova a docilidade do autista educado. Ocorrem, para alguns deles, verdadeiras crises subjetivas, intratáveis para a família e sem respostas eficazes por parte da administração. Aqueles autistas que não encontraram a estabilidade que permite habitar o mundo são considerados, assim, casos graves, irrecuperáveis e são segregados em instituições mais ou menos coercitivas, submetidos a uma única resposta institucional: a contenção física e medicamentosa. Com a adolescência e a idade adulta finaliza-se, então, a pergunta sobre o autismo.

Mas, que destinos toma aquele autismo que foi diagnosticado na primeira infância? São conhecidos aqueles casos que responderam bem às propostas terapêuticas oferecidas. E são conhecidos, também, aqueles que encontraram, por seus próprios meios, um modo de inscrever seu sintoma no vínculo social. Entretanto, onde se encontram os autistas para os quais a estabilidade que necessitam questiona todo tipo de modelo assistencial existente? Esse autismo, aquele que é resistente a qualquer abordagem terapêutica ou reeducativa é, de fato, a resposta à pergunta “O que é o autismo?” E é a excepcionalidade de cada um desses casos a única aproximação possível que os psicanalistas tomamos seriamente.

Uma prova disso são as diversas instituições criadas nas últimas décadas por psicanalistas de orientação lacaniana, que demonstram, a cada vez, que a instituição pode converter-se para o adulto com autismo em um outro permeável a seu sintoma. O valor de invenção dessas instituições merece, nesses momentos, elaborar-se e se transmitir à luz, tanto das instruções de “boas práticas”, como das recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre as “medidas integrais baseadas na pessoa”, e a Convenção sobre os direitos das pessoas com discapacidade.

Encontramo-nos ante uma questão fundamentalmente política à qual a Escola Lacaniana de Psicanálise responde com a organização deste novo Fórum internacional, que tem por título “Depois da infância. Autismo e política” e que terá lugar em Barcelona, em 7 de abril de 2018.

Sob os auspícios da Associação Mundial de Psicanálise, convocamos os políticos concernidos pelo tema e os cidadãos em geral a este fórum de debate, que contará com a presença internacional de psicanalistas de orientação lacaniana, de associações de pais de pessoas com autismo, de profissionais diversos que sustentam sua prática e investigação a partir da pergunta sobre o autismo mais além da infância, e de sujeitos que dão testemunho, a seu modo, do real a que se encontram confrontados.

Conversações sobre o Forum e sua política. Por Neus Carbonell e Iván Ruíz

IVÁN: Para o 3° Forum sobre autismo que a Escola Lacaniana de Psicanálise está organizando, escolhemos um tema fundamentalmente político : o que acontece com o autismo mais além da infância, na adolescência e na idade adulta ?

NEUS: De fato, se trata de um tema fundamentalmente político, mesmo que possa parecer de outra natureza. É politico, em primeiro lugar, porque põe os processos de segregação, no coração de nossa sociedade, em destaque . Assim, é frequente encontrar programas e recursos destinados a crianças que foram diagnosticadas como autistas, realmente somos testemunhas de que o interesse no autismo durante a infância não para de crescer. Sem dúvida, quando estes sujeitos chegam a adolescência e logo depois à idade adulta, não existe para eles um discurso que os acolha. O que implica que o que a sociedade pode oferecer a estes sujeitos e a suas famílias é francamente limitado.

O autismo é um diagnóstico que se refere fundamentalmente à infância. Os programas que existem, os recursos, a presença social, tudo isso faz referência quase que exclusivamente à infância. Sem dúvida, quando e onde se fala do autismo na vida adulta? Por tudo isso, nosso Fórum quer abordar exatamente a pergunta que você coloca: o que acontece com o autismo mais além da infância? Nós temos algumas ideias a partir das quais vamos elaborar nosso programa, mas esperamos que este Encontro nos permita responder a esta pergunta desde múltiplas perspectivas. Por exemplo, a partir da perspectiva do diagnóstico, da medicação, da clínica, dos recursos sociais, enfim, dos projetos de vida que a sociedade é capaz de oferecer a estes sujeitos e a suas famílias. Todas estas questões são políticas porque trazem em primeiro plano o modelo de sociedade que queremos. Têm a ver com a ética, com a lei, com a distribuição de recursos.

NEUS: Nós colocamos uma primeira questão : O autismo infantil é definido na Psiquiatria, que segue os manuais mais usuais como o DSM a partir de alguns itens, de maneira que se diagnostica a partir de testes. Entretanto, não estou certa que os testes possam ser implementados a partir da puberdade. Qual sua opinião ? Que mudanças a puberdade introduz que modificam a definição de autismo da infância ?

IVÁN: É verdade, a puberdade explode as melhores intenções daqueles que queriam enquadrar dentro de um teste confiável de TEA os que foram crianças com autismo. Diria mais, a puberdade no autismo presentifica muitas vezes, para os profissionais, mas sobretudo para as famílias, que o que se tinha preparado para ajudar a esta criança, se funcionou em seu momento, já não servirá. A insistência do adulto fracassa, há que se inventar outras coisas.

Os testes de diagnósticos foram elaborados a partir de uma idéia de normalidade do que é uma criança, mas uma criança que, se espera, chegue a ser um adulto de pleno direito.

É verdade que alguns adolescentes com autismo conquistaram uma estabilidade que lhes permite arranjar-se, por exemplo, com as mudanças em seu corpo, em sua imagem e em seus modos de obtenção de satisfação. Mas para outros, ao contrário, tudo isto fracassa uma e outra vez, seu modo de se virar sem a identificação a alguma imagem da adolescência torna-se insuportável para os adultos que estão com eles.

NEUS: Jean-Pierre Rouillon, em uma conferência que deu este ano em Barcelona, assinalou muito acertadamente que a sexualidade é a forma como alguns humanos tratam a irrupção do gozo que invade seus corpos a partir da puberdade. Os autistas são sujeitos que não contam com a sexualidade para enfrentar este gozo e devem então recorrer a outras formas de tratamento. Esta forma de colocar a questão é francamente interessante. Para começar, tomar a perspectiva do gozo supõe, em primeiro lugar, partir da noção de que não existem formas de gozo melhores que outras. Portanto o autista não está em déficit frente a uma suposta normalidade. Em todo caso , as coisas são mais difíceis posto que não pode recorrer às soluções prêt-à-porter e deve construir uma à sua medida. Colocar o que ocorre ao sujeito a partir da puberdade desde as dificuldades para viver em um corpo que exige a satisfação, supõe entender que não há maneira de chegar à vida adulta com certa estabilidade se o autista não encontrou um modo de funcionar no mundo suficientemente consistente que lhe permita ter onde apoiar-se. Por isso, nesta etapa podem ocorrer crises subjetivas realmente devastadoras. Aqui também podemos ver porque essas crianças que foram mais ou menos dóceis às técnicas reeducativas da infância podem entrar em severas crises, já que essas técnicas não lhes servem para tratar o que lhes sucede no corpo.

IVÁN: Este é um tema fundamental, uma vez que para muitos adolescentes as técnicas reeducativas não podem ser aplicadas a não ser com coação, com uma vontade férrea de substituir as condutas que o garoto tem por aquelas que o adulto quer que ele tenha. Então, não é possível pensar que o sujeito possa fazer seus os recursos que o adulto lhe oferece se ele se vê obrigado a defender-se desta opressão. Mas, há algo mais. Reduzindo-se a imposição do adulto sobre o sujeito, desapareceria imediatamente sua posição defensiva e, assim, poderia aceitar o adulto como lugar de referência – tudo seria mais fácil.

O problema é que o autista incorpora esta resposta defensiva, infligindo dor ao próprio corpo, por exemplo, e a generaliza mediante qualquer imposição que venha das pessoas que o rodeiam (o anúncio da finalização de uma atividade), do entorno (o pôr-do-sol) ou de seu próprio corpo (a sensação de fome ou uma dor de barriga) – para mencionar algumas situações comuns. Mediante isto, nossa margem para ajudá-los fica reduzida; e o que é fato é que quanto mais imposição do adulto mais imposição do autista sobre seu corpo.

NEUS: Quero, ainda, acrescentar algo mais. Mesmo que as invenções que o sujeito possa alcançar sejam fundamentais, não podemos esquecer que estas soluções podem ser, aos olhos dos outros, bastante modestas e, inclusive, das mais incompreensíveis ao sentido comum. Devemos ter sempre presente que quando propomos a invenção não podemos nos referir unicamente àquelas que gozam de prestígio social - por exemplo, o autista que consegue converter-se em um bom músico.

Às vezes, são as mais estranhas: o menino que se sustenta por meio de perguntas insistentes e sem respostas; o menino que se faz acompanhar das máscaras e da música dos filmes da Disney. Além disto, as soluções encontradas nunca são definitivas, nunca chegam a ter o valor de uma metáfora do corpo que experimenta. Por isto, repetem-se várias vezes, o que implica que aqueles que acompanham o autista devem estar dispostos à repetição incansável e nunca definitiva da solução, por vezes extremamente frágil.

IVÁN: Não é pouca coisa isto que você diz.

NEUS: Realmente. E implica que para estes sujeitos devem existir alguns outros dispostos a isto. O que somente se consegue a partir de um trabalho clínico muito consistente. Não é nada certo que isto esteja garantido para eles. Por esta razão, muito frequentemente o tratamento medicamentoso vem no lugar de um fracasso e a agressividade dos adultos em direção a estes sujeitos – que se escuta em algumas instituições, sobretudo residenciais – é a resposta frente ao que não podem suportar, nem eles nem a direção clínica da instituição.

IVÁN: Trataremos, neste Fórum, da questão da agressividade. Por isto, acreditamos que é um fórum fundamentalmente político. A idade adulta coloca algumas dificuldades no que está disposto na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006. Nela, se reconheceu a importância de dar a estas pessoas “a oportunidade de participar ativamente nos processos de adoção de decisões sobre políticas e programas, incluídos os que lhes afetam diretamente”. Nos casos de sujeitos em que o seu autismo os mantém distantes de fazer valer este direito, como medimos o que mais convém a um autista adulto se seus modos de resposta não são, muitas vezes, os que somos capazes de escutar?

NEUS: O que esperamos deste Fórum?

IVÁN: Com este Fórum, procuraremos tornar visível uma realidade que desespera as famílias, coloca contra a parede as instituições e os profissionais que nelas trabalham, e que politicamente não está atendida. Queremos dar a palavra à angústia que hoje não dispõe de vias para ser tratada e convocar nossos políticos a dimensionar o que está em jogo e o que temos, todavia, de fazer.

Os psicanalistas estamos em condições de elaborar um discurso sobre o que ocorre com o autismo mais além do diagnóstico usado atualmente, uma vez que os sujeitos atravessam a puberdade ou chegam à idade adulta com um autismo que adquire diversas formas no autismo decidido – como escutei você assim nomear em determinada ocasião -, na Síndrome de Asperger, na esquizofrenia, na debilidade cognitiva, enfim, no modo de estabilização de cada sujeito.

Contaremos com a presença de psicanalistas de todo o mundo, membros da Associação Mundial de Psicanálise, assim como de profissionais que sustentam seu trabalho no campo da educação, da saúde mental, das instituições dia e residenciais, instituições de familiares, que conhecem de primeira mão os limites que o adolescente ou o adulto com autismo encontra.

Neus Carbonell e Iván Ruíz

Fonte: 
http://autismoepsicanalise.blogspot.com/

O SUJEITO AUTISTA E SEUS OBJETOS



 Maria Anita Carneiro Ribeiro

Pós- doutora em Psicologia pela PUC-RJ, doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, coordenadora acadêmica e professora do Curso de Especialização em Psicologia Clínica da PUC-RJ, professora do Mestrado e do Doutorado em Psicanálise Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida, RJ, psicanalista membro (AME) da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, coordenadora do Colegiado de Formações Clínicas do Campo Lacaniano. E-mail: mariaanitacarneiroribeiro@yahoo.com


Maria Helena Martinho

Doutora e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicanálise do IP/UERJ, professora dos Cursos de Doutorado e de Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade da UVA, professora e supervisora clínica do Curso de Especialização em Psicanálise da UVA, professora e supervisora clínica do Curso de Especialização em Psicologia Clínica da PUC-Rio, coordenadora e supervisora clínica do SPA/UVA, psicanalista membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano – Brasil, psicanalista membro do Colegiado de Formações Clínicas do Campo Lacaniano – Rio de Janeiro. E-mail: mhmartinho@yahoo.com.br


Elisabeth da Rocha Miranda

Doutora e mestre pelo programa de Pós-graduação em Psicanálise do IP/UERJ, psicanalista membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano (AME), psicanalista membro  do Colegiado de ensino de Formações Clínicas do Campo Lacaniano-RJ, professora do curso de Especialização em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro- PUC-Rio. Email bethrm@uol.com.br


Resumo: Este artigo procura evidenciar que a psicanálise se propõe a entrar no debate teórico-clínico sobre o autismo, deslocando a ênfase do caráter genético, inato e comportamental para as perturbações da linguagem. Longe das técnicas adaptativas, que desejam que o autista seja uma máquina de alto desempenho, a psicanálise resiste à normatização. Em oposição ao discurso do mestre, ao discurso da civilização, a psicanálise escuta o que não se pode reduzir ao transtorno, testemunhando a divisão do sujeito pelo signi2cante. Palavras-chave: autismo; objeto; direção do tratamento.


Revistas PUC-SP
A peste, São Paulo, v. 4, no 2, p. 77-89, jul./dez. 2012

Fonte:
https://revistas.pucsp.br/index.php/apeste/article/viewFile/22116/16225

"autista" ou "criança com autismo"

Para as pessoas que convivem com o autismo, um dos assuntos mais polêmicos é como se referir à pessoas no espectro. Aqui está a diferença entre dizer: criança com autismo e criança autista. Enquanto alguns preferem o termo “pessoas com autismo”, outros inclinam-se para “pessoa autista”. Há aqueles que são indiferentes à terminologia usada. Mais do que simplesmente transmitir um significado, palavras transmitem sentimento e como as pessoas são percebidas.
Cada pai, cuja a vida foi afetada pelo autismo, tem seus próprios pensamentos sobre o tema. A maneira como você se refere ao seu filho, diz algo sobre como você vê a condição dele.
O que pode significar falar “criança com autismo”:
Autismo não é algo que define a criança. Este é o mesmo pensamento que seria aplicado ao descrever alguém com qualquer outra doença ou deficiência. Por exemplo, quando nos referimos à alguém que está com câncer, falamos “a (pessoa) está com câncer”. Essa maneira de referir à pessoa demonstra vê-la além da doença, ressaltando que, antes de mais nada, ela é uma pessoa. Nessa mesma linha, muitas famílias preferem usar a terminologia “criança com autismo”.
Outra ideia importante que este termo transmite é que o autismo é apenas um traço que compõe a criança. Ele realça o fato de que há muitas outras facetas e complexidades que compõem a personalidade de uma criança especial. Um pai explica o significado de não se concentrar apenas no autismo do seu filho: “Eu tenho um filho com autismo, olhos verdes, cabelo castanho longo, o sorriso mais bonito, uma risada contagiosa e uma grande obsessão por um desenho animado.
O que significa falar “criança autista”:
O termo “criança autista” transmite a ideia de que o autismo é uma parte integral e define a criança. Esta não é necessariamente uma maneira negativa de descrever alguém, é simplesmente uma maneira diferente de perceber a condição. A distinção importante é que um termo como “autista” implica que a criança seria completamente diferente, se não fosse pelo o autismo. Em outras palavras, o autismo determina quem a criança é. Alguns também argumentam que este termo reflete mais a realidade ao contrário de uma doença; o autismo será sempre parte de quem a criança é. E, dessa forma, o autismo é o que as torna especiais.
Alex Lowery, um jovem que foi diagnosticado com autismo aos 4 anos, explicou porque ele se identifica mais com o termo autista: “Pessoalmente, eu não acho que seja ofensivo o uso do termo” autista “. Eu uso-o com bastante frequência para me descrever e aos outros que estão no espectro … Por que é considerado ofensivo dizer que alguém é autista? E por que é melhor dizer que eles “têm” autismo? Para mim, esse tipo de distinção implica que o autismo é uma doença que precisa ser curada – o que não é “.
Como Lowery, algumas pessoas no espectro acham o termo ‘pessoas com autismo’ ofensivo porque percebem o autismo como parte de quem elas são. Ao contrário de uma doença, o autismo não é algo que alguém simplesmente tem e pode se recuperar. O autismo é uma batalha ao longo da vida; uma parte inapagável da identidade de uma pessoa e da forma como ela vê o mundo. Para aqueles que percebem o autismo desta forma, ‘autista’ transmite essas ideias claramente.
O que a pesquisa diz?
Em 2015, uma variedade de pessoas foram pesquisadas – incluindo aqueles com a condição, familiares e profissionais – para obter uma melhor noção das preferências da comunidade de autismo. A pesquisa mostrou claramente que houve uma mudança na linguagem que identifica o autismo como parte integrante da identidade de uma pessoa.
Todos os entrevistados se identificaram com os termos como “no espectro autista” e “síndrome de Asperger”. No entanto, uma distinção significativa pode ser encontrada quando se trata de termos como “autista” e “Aspie”**. De acordo com a pesquisa, aqueles com a condição preferem ser identificados como “autista”, enquanto os membros da família não. A pesquisa também identificou que termos como “baixo funcionamento” e “autismo clássico” são termos detestáveis pela maioria das pessoas pesquisadas.
O que podemos aprender com isso?
É importante estar ciente da linguagem usada para descrever o autismo, e levar em conta as preferências daqueles com a condição. Talvez, a maior lição que podemos aprender é que, assim como as percepções sobre o autismo estão continuamente evoluindo e mudando, a terminologia também está. Todos nós precisamos estar cientes disso, e aceitar que não há uma maneira correta de descrever o autismo. Na maioria das vezes, é uma questão de preferência pessoal.
Enquanto terapeuta, sempre utilizo a terminologia usada pela família para me referir às crianças com quem trabalho.

* Texto retirado do site Different roads to Learning
** Aspie é alguém com Síndrome de Asperger
Fonte:

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Autismo - Literatura para pesquisa

AUTISMO (Literatura)


Aqui estão reunidos os melhores materiais de pesquisa e estudo sobre o Autismo.
Eles se encontram à disposição dos alunos da Profª Márcia Pletsch
como também de outros estudiosos e pesquisadores interessados.
Esses livros, artigos, vídeos e teses servirão de guia e complementação para um levantamento mais aprofundado desse distúrbio.





Fonte: https://sites.google.com/site/pesquisassobresurdez/marcia-denise-pletsch/autismo

Brinquedos



Fonte: http://picbear.online/auditiva_clinica

Livros sobre Autismo

Este livro abaixo é um exemplo dos livros listados no site Instituto Pensi.

Ótima lista, vale a pena conferir.

Acesse: https://autismo.institutopensi.org.br/livros-sobre-autismo/ 


A Best Practice Guide to Assessment and Intervention for Autism and Asperger Syndrome in Schools


Autor: Lee A. Wilkinson













terça-feira, 24 de julho de 2018

CID -11

Nova classificação de doenças, CID-11, unifica Transtorno do Espectro do Autismo: 6A02


Assim como no DSM, o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, a nova CID une os transtornos do espectro num só diagnóstico

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) passou a constar na nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a CID-11 (ICD-11 na sigla em inglês para International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems), lançada nesta segunda-feira (18/junho) pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O documento seguiu a alteração feita em 2013 na nova versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, o DSM-5 (na sigla em inglês para: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), que reuniu todos os transtornos que estavam dentro do espectro do autismo num só diagnóstico: TEA.
A CID-10 trazia vários diagnósticos dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD — sob o código F84), como: Autismo Infantil (F84.0), Autismo Atípico (F84.1), Síndrome de Rett (F84.2), Transtorno Desintegrativo da Infância (F84.3), Transtorno com Hipercinesia Associada a Retardo Mental e a Movimentos Estereotipados (F84.4), Síndrome de Asperger (F84.5), Outros TGD (F84.8) e TGD sem Outra Especificação (F84.9). A nova versão da classificação une todos esses diagnósticos no Transtorno do Espectro do Autismo (código 6A02 — em inglês: Autism Spectrum Disorder — ASD), as subdivisões passaram a ser apenas relacionadas a prejuízos na linguagem funcional e deficiência intelectual. A intenção é facilitar o diagnóstico e simplificar a codificação para acesso a serviços de saúde.

OMS

A CID, hoje com aproximadamente 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte, é a base para identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o planeta. O documento da OMS fornece uma linguagem comum que permite aos profissionais compartilhar informações de saúde em nível mundial. A nova versão foi feita 18 anos depois do CID-10 (lançado em 1990).
“A CID é um produto do qual a OMS realmente se orgulha. Ela nos permite entender muito sobre o que faz as pessoas adoecerem e morrerem e agir para evitar sofrimento e salvar vidas,” disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “
O trabalho de elaboração do documento levou mais de 10 anos, e a CID-11 será a primeira versão totalmente eletrônica. A ferramenta foi projetada para uso em vários idiomas: uma plataforma de tradução central garante que suas características e resultados estejam disponíveis em todas as línguas traduzidas.
“Um dos mais importantes princípios desta revisão foi simplificar a estrutura de codificação e ferramentas eletrônicas. Isso permitirá que os profissionais de saúde registrem os problemas (de saúde) de forma mais fácil e completa”, afirma Robert Jakob, líder da equipe de classificação de terminologias e padrões da OMS.

Novos capítulos

Essa é a primeira grande revisão da CID em quase três décadas, que agora traz capítulos inéditos, um deles sobre medicina tradicional. Embora milhões de pessoas recorram a esse tipo de cuidado médico, ele nunca havia sido classificado neste sistema. Outra sessão inédita, sobre saúde sexual, reúne condições que antes eram categorizadas ou descritas de maneiras diferentes — por exemplo, a incongruência de gênero estava incluída em condições de saúde mental. O distúrbio dos jogos eletrônicos foi adicionado à seção de transtornos que podem causar dependência.
A 11ª versão da CID reflete o progresso da medicina e os avanços na pesquisa científica. Os códigos relativos à resistência antimicrobiana, por exemplo, estão mais alinhados ao GLASS, o sistema global de vigilância sobre o tema. As recomendações da publicação também refletem, com mais precisão, os dados sobre segurança na assistência à saúde. Ou seja, situações desnecessárias com risco de prejudicar a saúde – como fluxos de trabalho inseguros em hospitais – podem ser identificadas e reduzidas.

Para 2022

A CID-11, que será apresentada para adoção dos Estados Membros em maio de 2019 (durante a Assembleia Mundial da Saúde), entrará em vigor em 1º de janeiro de 2022. A versão lançada agora é uma pré-visualização e permitirá aos países planejar seu uso, preparar traduções e treinar profissionais de saúde.

Fonte: