Para as pessoas que convivem com o autismo, um dos assuntos mais polêmicos é como se referir à pessoas no espectro. Aqui está a diferença entre dizer: criança com autismo e criança autista. Enquanto alguns preferem o termo “pessoas com autismo”, outros inclinam-se para “pessoa autista”. Há aqueles que são indiferentes à terminologia usada. Mais do que simplesmente transmitir um significado, palavras transmitem sentimento e como as pessoas são percebidas.
Cada pai, cuja a vida foi afetada pelo autismo, tem seus próprios pensamentos sobre o tema. A maneira como você se refere ao seu filho, diz algo sobre como você vê a condição dele.
O que pode significar falar “criança com autismo”:
Autismo não é algo que define a criança. Este é o mesmo pensamento que seria aplicado ao descrever alguém com qualquer outra doença ou deficiência. Por exemplo, quando nos referimos à alguém que está com câncer, falamos “a (pessoa) está com câncer”. Essa maneira de referir à pessoa demonstra vê-la além da doença, ressaltando que, antes de mais nada, ela é uma pessoa. Nessa mesma linha, muitas famílias preferem usar a terminologia “criança com autismo”.
Outra ideia importante que este termo transmite é que o autismo é apenas um traço que compõe a criança. Ele realça o fato de que há muitas outras facetas e complexidades que compõem a personalidade de uma criança especial. Um pai explica o significado de não se concentrar apenas no autismo do seu filho: “Eu tenho um filho com autismo, olhos verdes, cabelo castanho longo, o sorriso mais bonito, uma risada contagiosa e uma grande obsessão por um desenho animado.
O que significa falar “criança autista”:
O termo “criança autista” transmite a ideia de que o autismo é uma parte integral e define a criança. Esta não é necessariamente uma maneira negativa de descrever alguém, é simplesmente uma maneira diferente de perceber a condição. A distinção importante é que um termo como “autista” implica que a criança seria completamente diferente, se não fosse pelo o autismo. Em outras palavras, o autismo determina quem a criança é. Alguns também argumentam que este termo reflete mais a realidade ao contrário de uma doença; o autismo será sempre parte de quem a criança é. E, dessa forma, o autismo é o que as torna especiais.
Alex Lowery, um jovem que foi diagnosticado com autismo aos 4 anos, explicou porque ele se identifica mais com o termo autista: “Pessoalmente, eu não acho que seja ofensivo o uso do termo” autista “. Eu uso-o com bastante frequência para me descrever e aos outros que estão no espectro … Por que é considerado ofensivo dizer que alguém é autista? E por que é melhor dizer que eles “têm” autismo? Para mim, esse tipo de distinção implica que o autismo é uma doença que precisa ser curada – o que não é “.
Como Lowery, algumas pessoas no espectro acham o termo ‘pessoas com autismo’ ofensivo porque percebem o autismo como parte de quem elas são. Ao contrário de uma doença, o autismo não é algo que alguém simplesmente tem e pode se recuperar. O autismo é uma batalha ao longo da vida; uma parte inapagável da identidade de uma pessoa e da forma como ela vê o mundo. Para aqueles que percebem o autismo desta forma, ‘autista’ transmite essas ideias claramente.
O que a pesquisa diz?
Em 2015, uma variedade de pessoas foram pesquisadas – incluindo aqueles com a condição, familiares e profissionais – para obter uma melhor noção das preferências da comunidade de autismo. A pesquisa mostrou claramente que houve uma mudança na linguagem que identifica o autismo como parte integrante da identidade de uma pessoa.
Todos os entrevistados se identificaram com os termos como “no espectro autista” e “síndrome de Asperger”. No entanto, uma distinção significativa pode ser encontrada quando se trata de termos como “autista” e “Aspie”**. De acordo com a pesquisa, aqueles com a condição preferem ser identificados como “autista”, enquanto os membros da família não. A pesquisa também identificou que termos como “baixo funcionamento” e “autismo clássico” são termos detestáveis pela maioria das pessoas pesquisadas.
O que podemos aprender com isso?
É importante estar ciente da linguagem usada para descrever o autismo, e levar em conta as preferências daqueles com a condição. Talvez, a maior lição que podemos aprender é que, assim como as percepções sobre o autismo estão continuamente evoluindo e mudando, a terminologia também está. Todos nós precisamos estar cientes disso, e aceitar que não há uma maneira correta de descrever o autismo. Na maioria das vezes, é uma questão de preferência pessoal.
Enquanto terapeuta, sempre utilizo a terminologia usada pela família para me referir às crianças com quem trabalho.
* Texto retirado do site Different roads to Learning
** Aspie é alguém com Síndrome de Asperger
Fonte:
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