terça-feira, 25 de abril de 2017

Letra cursiva para crianças autistas?

Por Patricia Alonso de Oliveira Fruchi

Muitas pessoas questionam sobre o uso da letra cursiva. Quando devem iniciar o treino dessa caligrafia? Ela é indicada para as crianças autistas?  Refletiremos sobre essas questões no texto dessa semana.
cursiva autismo
O uso da letra cursiva
Para responder esses questionamentos devemos ter em mente sempre a aplicação desse conteúdo. Sabemos que a letra cursiva é uma letra que vem sendo, com o passar do tempo, menos usada. Ela é mais usada quase que exclusivamente na escola, pois hoje as pessoas se comunicam mais através de mensagens escritas pelo computador ou mensagens de celular, por isso ensinar a letra cursiva deve ser  uma decisão bem pensada levando em consideração cada criança.
A ideia da letra cursiva é dar mais agilidade à escrita e ensiná-la não dever uma obrigatoriedade. Lembro  de uma reunião que tive no passado com uma equipe multidisciplinar, que atendia uma criança autista, onde decidíamos se deveríamos, ou não, exigir da criança o uso da letra cursiva e no meio dessa discussão pensávamos como esse aluno reagiria com a introdução dessa letra. Encerramos a reunião decidindo que embora a escola fizesse uso da letra cursiva, só usaríamos se nosso aluno tivesse condições de utilizá-la. Pensamos na pequena dificuldade motora que esse aluno apresentava, na demora que ele teria em realizar as atividades, acreditávamos que ele seria resistente, pois já conhecia e utilizava a letra bastão.
E toda nossa discussão de nada valeu, pois quando a professora iniciou o ensino da letra cursiva, nosso aluno não aceitou usar uma letra diferente que os colegas. Às vezes, se atrasava na lição e mesmo dando a possibilidade de usar a letra bastão que  tinha mais facilidade, ele preferia a cursiva. Para todos nós foi um grande exemplo de inclusão que partiu dele mesmo. Não foi um processo extremamente fácil, mas  possível.  Isso me ensinou, mais uma vez, que eu tenho que ter em mãos várias possibilidades de trabalho, mas a decisão final tem que ser tomada na experiência com meu aluno.
Provavelmente a maioria das crianças autistas vai precisar de muito treino para aprender a letra cursiva, vão precisar de ajuda física, do modelo, da fragmentação de cada parte das letras. Provavelmente algumas precisarão de linhas maiores no início, necessitarão de linhas indicando onde cada parte da letra deverá ir (exemplo do caderno pautado de linhas verdes)  e pode ser que alguma criança não venha a aprender e isso não deve ser o principal. Se uma criança sabe ler e escrever, a escolha da letra é um detalhe muito refinado.
O foco sempre deve ser pra o que a criança precisa aprender. Se ela tem condições, podemos sim ensinar, se ela não apresenta condições motoras em aprender, não terá nenhum prejuízo no aprendizado da língua.
Para terminar gostaria de deixar duas observações importantes:
  • O uso da letra cursiva só deve ser iniciado quando a criança já está alfabetizada, antes disso é importante que ela observe as letras e palavras no ambiente, sendo assim a letra bastão é mais frequente;
  • O uso do caderno de caligrafia não é indicado no início, pois o tamanho das linhas não é adequado.
No mais, todas as orientações dadas anteriormente sobre o ensino da escrita podem ser aplicadas para o ensino da letra cursiva.

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