sexta-feira, 11 de março de 2016

Percepção musical em crianças autistas

Percepção musical em crianças autistas: melhora de funções interpessoais- por Bruna Luiza Guerrer, Jaqueline Lima de Menezes


Resumo
Estudos sugerem que as áreas do processamento da linguagem em indivíduos autistas têm ativação reduzida. Além disso, estes apresentam anormalidades em circuitos cerebrais, como: atraso no desenvolvimento maturacional dos circuitos do sistema límbico, número diminuído de células de Purkinje no cerebelo, aumento do volume do córtex frontal, dentre outras. No entanto, apesar destas anormalidades, as habilidades musicais são frequentemente preservadas. As regiões cerebrais associadas à linguagem e à música se sobrepõem,  o que sustenta a possibilidade de reabilitação desta através da música, que traz ainda eficaz melhoria no comportamento social e comunicativo através do aumento da atenção compartilhada. Pesquisas apontam benefícios da música na neuroplasticidade e provam que intervenções baseadas em música podem ser usadas para fortalecer conexões entre as regiões frontal e temporal, que apresentam anormalidades nos autistas. Atividades relacionadas à música envolvem imitação e sincronização, levando à ativação de áreas que contêm neurônios-espelho e proporcionando o desenvolvimento da cognição social, tarefas nas quais indivíduos autistas tipicamente mostram dificuldades.

Palavras – chave: autismo, neurônio-espelho, música, neuroplasticidade.



Música, Autismo e Teoria da Mente
Atribuir estados mentais é talvez uma das formas mais complexas de raciocínio que envolve seres humanos (Kana et.al., 2009). A Teoria da Mente é referida como a capacidade de atribuir estados mentais como crenças, desejos, conhecimentos e pensamentos a outras pessoas e predizer ou explicar o comportamento das mesmas em função destas atribuições (Baron-Cohen et. al.,1985). Crianças com desenvolvimento típico geralmente mostram evidências da Teoria da Mente em torno de quatro anos de idade quando começam a compreender as perspectivas de outras pessoas (Molnar-Szakacs et. al., 2009). O prejuízo na Teoria da Mente no autismo muitas vezes resulta em dificuldades de comunicação e interação que sustentam a vida cotidiana, apresentando um pobre desenvolvimento social, imaginário e comunicativo (Kana et.al., 2009).Déficits sociais específicos entre os indivíduos com transtorno autista geralmente incluem dificuldades em expressar emoções, compreender as emoções dos outros e empatia, bem como a incapacidade de interpretar os sinais sociais, avaliar a formalidade de eventos sociais, e agir em conformidade. A incapacidade de entender as expressões emocionais dos outros e responder apropriadamente impede o desenvolvimento de relações interpessoais significativas, colocando-os em risco de rejeição social (Frith, 2004; Baron-Cohen, 1995). A imaginação é relevante para a teoria da mente, uma vez que envolve a construção e a compreensão de um mundo irreal. Um estudo de crianças com autismo investigou a capacidade de desenhar objetos irreais ou impossíveis (como uma pessoa com duas cabeças), e descobriu que crianças com autismo ou eram relutantes ou menos capazes de produzir tais desenhos. No entanto, há evidência de persistentes deficiências na imaginação em crianças com autismo em uma série de tarefas não restritas ao desenho, como contar histórias, e medidas de criatividade padrão (Baron-Cohen, 1995). Décadas de pesquisa em musicoterapia têm indicado que a música facilita e apóia o desejo de crianças autistas de se comunicar. Algumas das áreas de melhoria verificadas incluem: aumento adequado dos comportamentos sociais, estereotipia, aumento de verbalizações, gestos e compreensão, e aumento dos atos comunicativos e engajamento com os outros, entre outros efeitos positivos (Wigram; Gold, 2006; Molnar-Szakacs et. al., 2009 ).


Conclusão
A musicoterapia direcionada ao autismo mostrou grandes benefícios na melhoria da capacidade de resposta interpessoal. Estes resultados foram observados mediante o desenvolvimento das áreas relacionadas à linguagem e comunicação, aumento da atenção compartilhada e estimulação das respostas de neurônios-espelho. A musicoterapia proporciona prazer, promoção intelectual e emocional, interação com outras pessoas, treinamento de habilidades lingüísticas e motoras, além de ser livre de efeitos colaterais. Entretanto, futuros estudos nesta área devem ser estimulados para proporcionar uma avaliação mais aprofundada destas hipóteses.
 Bruna Luiza Guerrer, Jaqueline Lima de Menezes-acadêmicas do curso de Medicina-FCS-UFGd-XIIa turma


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